19 de jul. de 2009

O Despertar (9° Parte)


“Olá, Anya.” Teresia cumprimentou e puxou Analice para dentro do quarto deixando mão e filha no corredor.
“Sei que está cansada, filha, mas poderia sentar por alguns minutos comigo? Tanto tempo se passou desde que te vi a ultima vez.”
“Cinco anos. Desde a batalha de Chicago.”
De comum acordo andaram até um nicho na parede com uma grande janela que olhava para um jardim que desafiava o frio da montanha. Sentaram em silencio por alguns instantes, simplesmente aproveitando esse momento raro de estarem unidas sem ser em batalha.
“Soube que tomou uma aprendiz.” Anya disse com um sorriso.
“Acabei de chegar e as fofocas já correm soltas.”
“Somos mulheres antes de tudo, Kália, e adoramos uma fofoca. Pelo menos a maior parte de nós. Não nos sobra muito para fazer alem de treinar, curar nossas feridas, nos apaixonar de vez em quando, criar nossas filhas e claro, comentar sobre tudo isso ocorrendo na vida dos outros.” Riu e cutucou Kália que somente levantou os cantos da boca. “Não quer me contar?
“Mãe, não tem nada para contar. A menina não tinha ninguém, o conselho da cidadela não parecia nada ansioso em achar uma nova casa para a garota e eu me senti responsável. Eu deixe a mãe dela morrer. Que mais podia fazer?”
“Kália, querida, você não foi feita para educar uma criança. É rebelde demais. Sempre foi. Como pode ensinar esta garota a ser uma guerreira quando sempre teve tantas duvidas? Ou será que finalmente se acomodou à essa vida?”
“Você nunca entendeu, não é? Amo essa vida, mas é a única que conheci. Como guerreiras não nos é dada a chance de experimentar outra vida, ou seguimos esta ou a outra, e a decisão deve ser feita cedo demais...”
“Ainda pensa nele?”
“Do que você está falando?” Kália virou o rosto escondendo lagrimas que nunca derramava, somente as deixava aflorar para secar ainda no leito de seus olhos, esquecidas, prisioneiras como ela.
“Você sabe muito bem. Ninguém a forçou a escolher, poderia ter casado e tido filhos, poderia ter sido feliz ou não. Poderia até mesmo tê-lo tomado como amante por um ano em vez de algumas noites.”
“Eu poderia ter feito muitas coisas, mãe, mas nenhuma delas pareceria certa, assim como esta vida não me parece, mas como você sempre diz, alguém tem que fazer o serviço sujo.” E Kália deu de ombros.
“E o que a menina é para você? Somente um peso a mais além do da sua espada? Não pode continuar levando a vida assim, filha.”
“Não diga que agora se importa, Anya, não parecia interessada no que seria de mim quando correu o mundo entre batalhas e me deixou para ser criada na Casa da Irmandade.” E Kália levantou e correu para o seu quarto como se mil demônios a seguissem. Sabia que Anya não a seguiria.
Encontrou Analice ainda acordada, sentada na cama à sua espera. A menina, apesar de mais corada pelo banho e massagem, ainda parecia prestes a se fazer em pedaços. Era como se somente as roupas a mantivessem inteira, como uma boneca de pano.
“Você precisa dormir agora, garota. Se quiser ser uma guerreira tem que começar por saber aproveitar cada minuto de descanso. Eles nunca são suficientes.”
“Eu... eu tenho medo de dormir e não lembrar onde estou. Tenho medo de sonhar de novo e...” Um soluço a balançou e abraços os joelhos se fazendo o menor possível sob olhar da guerreira.
Kália sabia o que era se sentir só, estivera assim a vida toda, cercada de pessoas que a queriam bem, mas essencialmente só. Sentou ao lado da menina e passando um braço desajeito pelo seu ombro, a deitou na cama e se ajeitou ao seu lado.
Muitas horas depois, quando a noite já havia pintado de negro cada canto do quarto, Kália acordou e ainda tinha Analice nos braços. E esta dormia em paz. Com um suspiro fechou os olhos novamente e dormiu com o coração muito mais leve do que costumava ser.
Continua...
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Um comentário:

Anônimo disse...

Este conto está me permitindo ouvir as vozes de cada personagem.