30 de jun. de 2008

Madame Butterfly

Militar Americano filho da puta baseado no Japão seduz jovem inocente e se casa sabendo que a cerimônia é invalida em seu país. Após um bom divertimento retorna à pátria com promessa vazia de voltar para a esposa-gueixa. Três anos depois o casamenteiro sacana que a casará com o americano filho da puta tenta empurrá-la para rico nobre japonês que somente permanece casado enquanto a noiva é fresca. Cônsul americano bondoso se compadece de esposa-gueixa abandonada quando vai ler a carta onde americano filho da puta finalmente demonstra toda sua canalhice. Esposa-gueixa revela filho mestiço e pede que Cônsul bondoso avise americano filho da puta que ela o espera com sua cria. Nobre japonês safado e casamenteiro sacana tentam dobrar esposa-gueixa abandonada quando navio de americano filho da puta atraca no porto, partem amargos por não completar seus intentos. Esposa-gueixa, filho-mestiço e criada-sábia esperam toda a noite em vão pelo retorno do cretino. Americano filho da puta aparece casado e pede que cônsul bondoso convença esposa-gueixa e entregar filho para ele e esposa-oficial. Esposa gueixa comete harakiri e todos choram lagrimas de crocodilo sobre o corpo da inocente, mas criada-sábia e cônsul bondoso sinceramente sentem sua trágica partida. Americano filho da puta parte com filho-mestiço e esquece que um dia pisou no Japão.

Madame Butterfly é uma belíssima opera, me deixou sem fôlego e com o gosto amargo na boca que um bom drama deve deixar. Figurino riquíssimo, palco e iluminação perfeitos e personagens carismáticos, infelizmente as cadeiras rangedoras do Teatro Municipal muitas vezes abafaram as vozes lindíssimas dos cantores.

Mesmo assim voltarei, mesmo sabendo que a próxima ópera talvez esteja cheia de personagens pérfidos e inocentes imolados. É disso que é feita a bela ópera, de grandiosidade, drama, sangue e beleza.

Obrigada pela oportunidade, Diógenes, no palco você é tão belo como o é quando está ao meu lado. Kiss.

24 de jun. de 2008

Sapatos

Coloquei seus sapatos e eram muito confortáveis. Deram-me a sensação de poder e bem estar que só um bom par de sapatos pode dar. Ofereci os meus pensando estar sendo justa, afinal se eu posso me ver em seus sapatos porque ela não pode provar os meus? Já esperava sua recusa, mas mesmo assim me causou embaraço, ela nem mesmo quis entender o porquê de eu reclamar da dor que me davam quando o dia era longo e os metros compridos demais. Disse simplesmente que não lhe serviam, apesar dos dela me servirem muito bem, e que não entendia o porquê das minhas reclamações sendo que eu mesmo comprara o pobre par. Achei que devia explicar que infelizmente eram o único par que pude conseguir e que haviam parecido bem melhores na vitrina do que posteriormente em meus pés, mas ela não entende sendo que nunca os precisou vestir. Devolvi-lhe os seus sem inveja. Prefiro os meus que apertam nos lugares errados e estão frouxos onde deveriam ser firmes do que sapatos que me dão tanto conforto que evitam que eu veja a dor alheia.

20 de jun. de 2008

Um pequeno milagre...

Um milagre não é algo absurdo. É somente aquele algo que você desesperadamente espera acontecer se tornando realidade. Milagres podem ser pequenos, mínimos, médios, grandes ou imensos, mas se você não ficar com os olhos abertos pode se passar por um simples acaso, um ato do dia a dia, uma pequena sorte que chega na hora certa. Eu espero por um. Não rezo por ele, não anseio e nem me desespero, mas simplesmente espero que dessa vez esse pequeno milagre que espero venha como um presente pelos anos que esperei em vão. Pode ser que no fim ele venha em outra forma e o aceitarei de braços abertos, mesmo que não com um sorriso, mas sim com lagrimas lavando meu rosto cansado.

17 de jun. de 2008

Noites Melancólicas


Dizem que ele surge em noites de neblina, quando o mar parece mais um céu cheio de nuvens. Dizem que é amaldiçoado e que ver sua silhueta é mau agouro. Mas isso é somente o que dizem. A lenda fala de um capitão cruel e de torturas sem fim, de porões de paredes tingidas de sangue e saques onde uma musica diabólica embalava piratas durante assassinatos e estupros. Quando ele surge no horizonte pode-se ver seu capitão em pé na proa, uma figura negra de cabelos longos que os dedos da neblina acariciam quase com carinho. Do navio só podemos adivinhar as formas elegantes e a potencia de seus canhões que estão sempre expostos por entre as portinholas abertas. Vemos também a sombra das velas negras que se debatem ao vento fantasma que não agita a neblina. É a imagem mais bela que pode surgir sobre esse mar céu da meia-noite, imagem que deveria inspirar enlevo e não temor, mas o ser humano parece sempre preferir acreditar no mal em vez do bem e isso talvez se deva à degeneração de nossa espécie. Eu , quando o imagino em meus sonhos, prefiro acreditar que este navio fantasma surge do fundo do oceano nas noites melancólicas. Nestas noites ele passeia pelo mar onde antes reinava, lembrando do balanço das ondas e dos portos onde outrora ancorava. Vagueia exalando suspiros entre as tabuas lustrosas e embalando uma tripulação de espectros que olha para o horizonte sem rancor. Não há porque ter medo, em noites melancólicas somente as boas lembranças conseguem emergir e apesar de nos causar saudade elas não produzem mal maior do que algumas lagrimas derramadas por um coração enternecido.

16 de jun. de 2008

Regras

Ele sempre vivera segundo regras. Primeiro foram seus pais que diziam que tudo dependia dele se comportar segundo o esperado. Depois viera a escola com suas regras e códigos de conduta que só ele se importava em seguir, afinal era o que se esperava dele. À anos e anos de estudo seguiram-se anos e anos de trabalho onde ser político foi mais importante que ser eficiente, mais isso é o que todos esperam de todos, certo? Sua vida era perfeita, todos invejavam seus ternos de bom caimento, suas namoradas perfeitamente platinadas, seu cargo de titulo pomposo e seu apartamento luxuosamente decorado, mas ninguém o conhecia realmente. Por trás de todas regras estocadas nas estantes de sua memória, de sua personalidade programada para nossos dias, existia um coração jovem e apaixonado à procura de uma saída para sua existência robótica. Seu trabalho o levava aos lugares mais remotos e belos do mundo, mas sempre olhava para tantas maravilhas como uma criança com o rosto colado à vitrine de uma loja de doces e sem um centavo no bolso. Nunca se deu ao prazer de subir ao alto da Torre Eifell ou de caminhar pela muralha da China ou andar pela Praça Vermelho ou mesmo de sentar em um café e sonhar em Casablanca. Sempre concentrado em seu dever e nunca se dando o prazer de ser simplesmente mortal. Seu caminho era sempre em frente e seu coração sempre pesado até que um dia, ao passar por um campo de flores selvagens que viviam sem regras e sem cuidados, sentiu todas amarras se partindo como se as pequenas flores entoassem cânticos mágicos que abriram todas malditas comportas que encarceravam seus sentimentos. A penúltima pessoa que o viu conta que corria nu pelo campo rindo como uma criança, sem medo e sem vergonha, simplesmente livre. A ultima pessoa que o viu conta que vive em uma felicidade serena em uma cabana de conto de fadas na beira de uma floresta e que ri com freqüência, conversa com todos que encontra, ama profundamente as mulheres que lhe cruzam o caminho, aprecia imensamente cada pequena maravilha que encontra e não segue absolutamente nenhuma regra.

15 de jun. de 2008

Quando velhos falam


Dividir experiências e memórias é o que nos resta. Não que não haja algo mais, mas se não tivermos para quem contar o que trazemos no peito o que fazer com toda essa bagagem? Vemos nossas mães e avós relembrando os velhos tempo, historias que já conhecemos, mas que sempre trazem algum detalhe novo, alguma pequena melhoria no roteiro. Não é somente para nosso entretenimento que cada momento de peso em suas vidas é repetido, mas, mais do que tudo, para lhes lembrar que suas vidas tiveram momentos marcantes, que suas vidas não foram em vão vividas. Nossos pais e avós nos lembram constantemente do que aprenderam nos tempos em que honra, dedicação e respeito queriam dizer algo mais que palavras vazias. Tentam, através de suas experiências, nos ensinar que somos responsáveis pelo que acontece ao nosso redor e que nossos erros podem ser concertados ou pelo menos minimizados se ousarmos nos responsabilizar por eles. Mães, pais, avós e avôs nos brindam constantemente com perolas que ignoramos por serem tão constantes. Falhamos em perceber que no meio do borbulhar constante de recordações está a chave para descobrirmos quem somos, pois de suas experiências resultou nossa educação, falha ou não. Passamos tempos demais tentando ignorar o que os velhos falam quando deveríamos lhes emprestar um instante nossos ouvidos e nos maravilhar por quantas mudanças foram capazes de passar, a quantos revezes sobrevieram e quantos amores lhes foram negados. Entender suas vidas é acharmos soluções para as nossas, pois cada vez que lamentam não ter seguido um caminho é como uma placa luminosa nos dizendo “Não desperdicem suas oportunidades. Não ignorem seus desejos”.

14 de jun. de 2008

No Puppet Here

O exterior não é nada. Somos fantoches com mil fios em mãos diferentes e com diferentes agendas. Navegamos pela vida esperando suprir as expectativas alheias e nos esquecemos de nossas próprias. Cada um quer um pedaço de nossa alma e seus propósitos são sempre egoístas. Mesmo quando nos recompensam é somente como um afago na cabeça de um cão, continue fiel, caro amigo, mas obediente, sempre obediente. É chamado de rebelde aquele que não aceita os puxões que lhe dão e caminha somente na direção que sabe ser a certa. Não há porque ter medo, fazer o seu melhor sem ser capacho de ninguém é perfeitamente aceitável, mas vem com uma certa carga, uma certa tarja negra onde se lê “difícil”. Aceite e continue cortando as cordas que tentam lhe prender, pois o único laço aceitável é aquele que você mesmo faz e onde se lê “fidelidade” e esse laço o damos somente para aqueles que ganharam nosso respeito. Somos o que somos, bons ou ruins, mas quando bons podemos nos dar ao luxo de fincar o pé nas coisas em que acreditamos sabendo que o retorno que damos, nossa dedicação e inteligência compensam todo o resto. I’m a rebel, but I like it.

2 de jun. de 2008

Inocência

As pessoas insistem em amadurecer e de certa maneira é a ordem natural das coisas, mas existem partes de nós que podem manter a inocência se ao menos lhes dermos uma chance. Gosto de ainda me surpreender como quando ainda tinha pernas pouco firmes e olhos arregalados para o mundo. Gosto de rir com abandono e de adorar um animalzinho fazendo papel de bobo. Adoro ser meio palhaça e de mostrar a língua para as costas de quem não gosto em vez de me morder de raiva. Me divirto com dancinhas idiotas para fazer rir aos outros e em falar como o exterminador do futuro só porque as mesmas frases de sempre parecem mais divertidas assim. Mantenho algo vivo dentro de mim desde a infância e nem mesmo faço força, somente não quero me separar do que me faz tão inocentemente feliz. Todos finais de semana me sento ao lado do meu irmão no sofá de casa e exercitamos o que temos de melhor, nosso lado completamente insano, escrachado, palhaço e irreverente. Falamos com liberdade, sem medo, aliviados de termos ainda com quem dividir o que temos de melhor. Nossa inocência. Não sei o quanto isso é saudável, mas o fato é que com 45 anos não tenho rugas, apesar de todas dores de cabeça que a vida me dá, e vejo cada cor como ela é e cada imagem com tudo que ela traz de mágico. Olho uma flor ainda tentando entender como pode algo tão belo nascer da terra, quase mordo minhas orelhas tentando entender a maravilha que é um avião, acho cada animal do mundo um milagre dos mais belos e ainda estendo a mão para cada um que encontro mesmo quando me dizem que eles podem morder. Manter o coração batendo não depende do nível de colesterol, do controle da pressão ou da alimentação saudável, mas sim da capacidade de manter dentro dele um santuário à criança que todos um dia fomos.

1 de jun. de 2008

Bloody Depression

Ele pegou o lenço de linho egípcio e delicadamente secou o sangue que escorria de seus lábios. Se alimentar era um assunto tão incomodo em certos dias que quase não valia à pena o esforço. Achar sangue jovem não era difícil, nem mesmo era preciso utilizar seu famoso olhar hipnotizante, era necessário somente estalar os dedos e mostrar os caninos afiados que logo uma legião de jovens lhe oferecia os pescoços sem nem mesmo pedir pela vida eterna. Tão tedioso.... Alem do mais todo esse assunto de sangue era por demais nojento para ele. O liquido viscoso e seu cheiro acre, o pensamento sempre constante de quantas doenças sugava de pescoços nem sempre limpos. Porque as pessoas pareciam menos limpas hoje do que no século 18? Elas cheiravam melhor e não eram ensebadas como seus antepassados, mas pareciam sempre mais podres, menos decentes, mais decadentes. Ele ainda lembrava quando era jovem e achava o mundo um lugar fantástico, via cada transformação como um milagre até que ele mesmo se transformara na criatura que era agora. E os anos se transformaram em décadas e em séculos e nada mais parecia fantástico. Houve época que caçar era um prazer, mergulhava seus dentes em pescoços mais sujos, mas mentes mais brilhantes e o que via naqueles instantes era assustador e maravilhoso. Hoje não havia o perfume forte para esconder a falta de higiene e todos faziam bom uso do sabonete, mas as mentes eram embotadas e os últimos pensamentos tão rasos quanto as poças nas ruas pavimentadas. O sangue de hoje fora razoavelmente limpo, mas a garota parecia viver de vento e, portanto seu sangue fraco não o sustentaria muito tempo. Ele não gostava das magras, eram sempre insípidas e preocupadas com sua aparência até o ultimo segundo “Morrerei magra!” pensavam elas com uma alegria estúpida. E haviam os que se enchiam de drogas e nem mesmo tinham a consideração, quando se atiravam em seus braços, de avisar que sua refeição viria com um nauseante premio extra. Limpou novamente a boca carnuda, olhou para o lenço para sempre maculado e com um suspiro desejou ser mortal para poder partir deste mundo que já não o seduzia mais.