18 de jul. de 2007

HellBus


Lá fora chove e chove daquele jeito irritante e desconfortável. Você pensa que pode andar essa meia quadra sem o monstrengo do guarda-chuva, mas percebe que cometeu um erro quando sua roupa já está absolutamente empapada pela garoa do inferno. Mas a chuva não é o que me desagrada nos dias chuvosos. Dã!!!! O pior nesses dias são as pessoas. O mundo de hoje parece ter criado uma horda de ogros, caricaturas de seres humanos, preguiçosos compulsivos e pirralhos agigantados.
Chego e pego uma fila ainda pequena (a terceira em espera), que vai me permitir ir sentada. Espero vários e vários minutos até que o ônibus designado para minha fila chegue. Já lá dentro procuro um lugar longe das goteiras (não faz essa cara, tá cheio de goteira nos ônibus) e me ajeito à janela já com meu livro à postos. O motor ronca mais alto e lá vamos nós. Um ogro adolescente se joga ao meu lado me olhando feio porque cheguei antes e ocupei o melhor assento do banco. Outros ogros adolescentes e vários pirralhos agigantados passam grunhindo para mim, que tento me esconder atrás do livro, como se meu direito ao assento em questão pudesse ser questionado. Ignoro a todos com meu mais plácido semblante matutino e me afundo no meu livro, onde uma batalha na Segunda Guerra parece mais atraente que o Vila Gilda. Caricaturas úmidas chacoalham seus guarda chuvas, como se já não bastassem as goteiras, e fazem chover sobre os pobres mortais que conseguiram se sentar às custas de filas e minutos perdidos.
Nota.
Eu sou uma boa cidadã. Costumo me oferecer para carregar objetos alheios, ofereço meu assento para os mais velhos e até sou bem simpática com os idiotas que batem na minha cabeça quando sento no corredor, mas meu pavio não é muito longo, hu hu, na verdade é meio curto. Tá bom, às vezes é mínimo.
Fim da Nota.
Depois de alguns minutos de muda agressão por parte dos ogros em pé eu finalmente abaixo meu livro. Dirijo-me primeiro à mulher que parece não conseguir enfiar seu guarda chuva em nenhum ligar alem de sobre meu banco “Ou você guarda essa joça ou vou enfiá-la pela sua garganta abaixo.” Gentilmente me retorço no banco para olhar para o pirralho atrás de mim em pé nas escadas que parecia achar que minha cabeça era um bumbo “Se você encostar em mim mais uma vez eu vou arrancar o que você considera ser prova da sua masculinidade. Isso quer dizer que eu vou capar você. Entendeu?”
Durante um minuto estupefato o ônibus ficou em silencio, mas logo risos estouraram e até o ogrinho ao meu lado sorriu para mim. Eu, vermelha e sem graça por ter perdido a calma, me enterro em meu livro novamente e me pergunto se não é hora de comprar uma lambreta.

6 de jul. de 2007

Fatos da Vida

Pastel de feira tem gosto diferente. Parece mais festivo, talvez até exótico. Comer pastel de pastelaria é como comer pizza em Goiânia, completamente sem graça. Talvez sejam os gritos dos feirantes ou as fatias de melancia, abacaxi e afins que vem como sobremesa.

Gadgets! Quem não os ama, quem não os deseja mesmo que não saiba para que vai usa-los? MP3, PenDrives, celulares com mil funções, despertadores que gritam seu nome, telefones que fazem tudo que os anteriores fazem e ainda brilham no escuro, mini estações de entrada USH em formato de bichinhos, maquinas digitais que fotografam em qualquer condição, caixas de som em formato de bolsa para seu MP3, teclados dobráveis, mini mesas para seu laptop e por ai vai. Cada dia que passa descobrimos que não podemos absolutamente viver sem estas pequenas maravilhas o que me leva para um outro fato da vida.

Japoneses podem fazer qualquer coisa. Qualquer país pode inventar algo, mas somente eles conseguem transformar esse algo em magia. Não é somente o fato de conseguirem encolher qualquer treco, que vai com certeza funcionar melhor do que o original, e ainda fazem com que seja uma maravilha para os olhos. São os mestres dos gadgets. São os criadores das melhores inutilidades indispensáveis. Quem não gostaria de se perder Tókio com alguns dólares no bolso? Dizem que são pequenos e por isso criam miniaturas, dizem que seus olhos estão sempre apertados para ver melhor, mas a verdade é que criam tantas coisas incríveis pois tem os cérebros mais privilegiados do planeta.

Não importa o que você leia, mistério, romances, aventuras, biografias, historia, você vai ser uma pessoa muito melhor e mais sabida se puder se educar a ler cada vez mais. Num mundo frases bruscas e toscas, ler cria um mundo a parte, aumenta seu vocabulário, o ensina geografia e historia sem que você perceba. Ler não é somente para os cultos, vide euzinha que devoro livros e não tenho nada de culta, é para todos. Livros ensinam a pensar, induzem a pensar. Livros são chocolate e pipoca para o cérebro, são a maneira de vivermos em um mundo completo que nunca conheceremos. Não são como os filmes onde só podemos ver o que nos mostram, os livros nos conduzem pelos pensamentos dos protagonistas, pelas artérias da trama. Ache seu gênero, seu autor e mergulhe.

Por mais que você seja desencanado e não ligue para o que aconteça quando já tiver feito sua viagem para o paraíso (ou inferno), deve um dia parar para pensar se gostaria que seus pais e avós deixassem o mundo no estado em que está deixando para a posteridade. Fazer algo gentil pela natureza não é frescura, não é gay (coisa que muitos machos parecem pensar), não é inútil porque você é somente um, é imprescindível neste mundo esgotado e esquecido por Deus.

Pipoca, chocolate, batatinha, amendoim, bala de goma, jujuba e similares, não são “besteiras”. Na verdade são parte importante de um gênero alimentício ainda não descoberto e que DEVEM ser inclusos na sua alimentação para o balanço perfeito de sua saúde física e mental. Um dia os japoneses descobrirão isso e contarão ao mundo. Confio neles.

Só para agradar meu irmão: O mar é feito de xixi de peixe.

1 de jul. de 2007

Post Mortem

Para qualquer pessoa a visão seria chocante, talvez até nauseante. Provavelmente lagrimas instantâneas nublassem a vista e espasmos estomacais levariam mãos a cobrirem bocas, corpos se dobrariam em dois enquanto joelhos atingiriam o chão levando dor a um cérebro já sobrecarregado. Mas não para ele. O rosto tingido em tons de púrpura e sangue já não mais parecia pertencer a um ser humano. Os ossos quebrados deformavam a face e lembravam mais um ser saído de um filme de horror. O corpo não estava em melhor estado. “Em frangalhos” poderia bem descreve-lo, mas não diria tudo. Não bastaria para contar da humilhação que fora infligida, do sadismo extremo com que fora tratado, do desprezo pela vida que cada chaga, cada hematoma, cada pequeno rio de sangue gritava em altos brados. Mas seus olhos estavam secos. Enxergava cada pequeno detalhe sem que sua face perdesse a cor rosada ou que seus olhos se espremessem como fazemos quando algo nos choca. A mesa de aço, que parecia tão gelada e imprópria para o repouso de qualquer corpo humano, já estava preparada. Todos seus instrumentos na bandeja brilhavam tão desnecessariamente esterilizados e o gravador aguardava suas palavras que seriam o epitáfio de uma vida perdida tão estupidamente. Seu sanduíche de mortadela, a metade dele que ainda restava, lhe chamou a atenção e o atacou com determinação enxaguado por uma lata de guaraná já meio quente. Seus olhos nunca deixaram o corpo. Sua mente nunca deixou de se perguntar como um ser humano poderia tratar a outro assim. Mas esse era o seu trabalho, como fazer tabelas ou dirigir empresas o eram para outros, e ele se orgulhava de ser um dos melhores. Um arroto quebra o silencio da sala e ele enrubesce. Primeiro sinal de qualquer emoção nesta figura tão fria quanto sua sala. Olha para o corpo e com voz rouca e velha pede desculpas pela grosseria. Só então percebemos que seu coração não está morto, não está intocado pela tragédia que jaz diante dele. Está somente bem abrigado, protegido por anos de tragédias, centenas de corpos maltratados, milhares de vidas destruídas. Seu coração ainda bate como o nosso, mas seu trabalho é mais importante que seus sentimentos. A mão firme que acaricia o rosto pétreo o denuncia novamente e logo nada mais resta a não ser o legista. Ele é a ultima voz que se levantará pelas vitimas.