28 de jun. de 2007

Battlestar Galactica


Não posso dizer que eu seja uma fanática por ficção cientifica, apesar de assistir quase todos os filmes do gênero que não sejam incrivelmente ruins, mas admito que resisti muito até ser convencida, pelo irmão Urso, a assistir Battlestar Galáctica. Não o ouvi por duas temporadas, mas acabei cedendo ao começar da terceira temporada. Ele chegou naquele sábado animado e eu acho que bufei um pouco, meio “Oh, Brother, o que não faço por você. Vamos assistir essa joça e partir pra próxima.” Não foi preciso muito. Logo eu era uma criança irritante lhe exigindo atenção o tempo todo. “Quem é esse? Onde eles estão? De onde vieram? Como os Cylons chegaram ali?” Algumas semanas depois, cansado de mim talvez, ele me presenteou com a primeira temporada. Nessa altura do campeonato eu já ansiava pelos sábados sem pensar no descanso. Só o que me interessava era a chegada das 4 horas e da musica meio etérea da abertura. Numa época de seriados repetitivos, copiados e sem futuro, Battlestar cativa pela profunda verdade por trás da ficção. A política, a natureza destrutiva e combativa do ser humano, a busca de uma comunidade que nem sempre é aceita por todos seus membros. Assisti a primeira temporada em poucas noites. Perdendo horas de sono, acordando para o trabalho com olheiras profundas, mas somente pensando que faltava pouco. Logo eu saberia tudo que importava. Mas claro que eu estava errada. A primeira temporada termina e me deixa num vão escuro e assustador e, apesar de eu saber o futuro que cada sábado me trás, não pude ficar parada. Parto em busca da segunda temporada e não demoro a me separar de meu suado dinheirinho em troca da caixa tão esperada. E é mais do que eu esperava. Muito mais. Esqueço da banalidade da vida enquanto Galáctica salta entre galáxias e Cylons ressuscitam em suas múltiplas copias. Assisto cada capitulo entre exclamações de surpresa, lagrimas de ansiedade e tristeza e muitos palavrões ditos em voz alta, o que parece divertir muito minha mãe no quarto ao lado. Battlestar Galáctica ganhou um lugar em minha rotina há muito tempo desocupado. Aquele lugar especial que guardamos para o que nos toca profundamente. TNT, sábados, 4 horas da tarde.

25 de jun. de 2007

A nova “brincadeira” dos adolescentes é se provocar desmaios. Não um. Não dois, mas às vezes 15 ou 20 em uma só noite. É obvio para quem tem dois olhos, dois ouvidos e meio cérebro que o mundo está indo ladeira abaixo, mas fico pensando como uma geração pode ter decaído tanto em inteligência e bom senso como esta. Intrigada com a pequena noticia sobre o novo modismo eu sai a procura de mais informações e elas pipocam muito naturalmente, como se fossem anúncios de um novo IPod. Apesar de muitas matérias avisando sobre os riscos os jovens continuam brincando. E morrendo. Tragédia? Não. Pura idiotice. Não consigo ter pena de pessoas que brincam com a própria vida e são estúpidas demais ,ou egocêntricas demais, para pesar os danos, para enxergar o perigo. Tragédia é ver o mundo entregue a uma geração que não dá valor nem a própria vida.

21 de jun. de 2007

Festa

Fico pensando se este ano terei sorte. Há muito tempo que festa junina é uma decepção. A ultima parecia mais uma zombaria, uma mal aparada tentativa de vender restos. Barracas e mais barracas de brechós, quentão feito de gasolina (pelo menos foi o que me pareceu quando explodiu em meu estomago) e barracas de cachorro quente e mini pizza(?). Nada de bingo, nada de barracas com brincadeiras, nada de doces típicos ou salgados da roça. Tudo mais sem graça do que TV aberta no fim de semana. Estamos perdendo nossas tradições a passo tão rápido que é até ridículo. Nada mais se parece com antigamente. As musicas das tão queridas festas juninas correm do aché para o funk sem respeito por São João. Ninguém se diverte mais mandando correio elegante para desconhecidos. Tudo é moderno e absolutamente sem graça. Festa junina perdeu sua identidade e daqui a pouco as outras festas também se renderão. Quanto tempo passará até que não nos lembremos mais do que significam e de como eram divertidas? Dizem que a idade gera saudosismo, que tudo parece melhor no passado, que vemos tudo com olhos cor de rosa, mas não é verdade. O passado possuía uma inocência e delicadeza que não podem ser recuperadas. O mundo está velho demais. Os jovens nascem sabendo coisas que deviam ignorar. A ordem é estar sempre à procura, mesmo que não se saiba do que. Não se sabe mais viver, somente se corre de um lado para outro esperando que as experiências sejam boas o suficiente para um dia podermos ser saudosistas. Mas ninguém mais o é. Ninguém mais tem motivo para ser. E se alguém souber de uma festa junina decente, por favor, me avise.

20 de jun. de 2007

Greve de Heróis

Correspondente: Testando... Testando... (click... rewind…) ”Testando…Testando…” Estamos prontos. Podemos começar? Muito bem. Sei que muitas perguntas que farei parecerão agressivas, mas quero deixar claro que só procuro respostas para as mil perguntas que o mundo se faz nesse momento. Ok? Vamos começar. Sei que a pressão de seu trabalho é grande e nem sempre a recompensa é justa, mas não se sentem constrangidos de abandonar as pessoas a sua sorte quando tem poder para minimizar tantas dores?
Super Herói 1: Bem... sim... não... Nem sempre é possível agradar à todos e, bem, meus companheiros e eu, bem...
Super Herói 2: O que meu colega quer dizer é que se nosso trabalho fosse realmente apreciado nunca nos teríamos sentidos desmotivados a continua-lo. Temos sentimentos como qualquer pessoa normal e nos magoamos e zangamos também, mas talvez o que tenha nos levado a abandonar sua raça à própria sorte, como você diz, tenha sido a frustração.
Super Herói 3: É isso ai. É frustrante estar sempre correndo para ajudar um bando de idiotas.
Correspondente: (sentindo cheiro de sangue e atiçando a fera enjaulada) Idiotas? É essa a visão que os Super Heróis tem dos simples mortais?
Super Herói 3: Pode apostar que é. Bilhões de idiotas sem um pingo de bom senso nos seus corpinhos frágeis. Células cinzentas indecisas e burras, é isso que vocês tem na cachola.
Super Herói 1: Não! Não! Não é bem assim. Bem, eu não penso assim, as pessoas são pessoas e eu tenho o maior prazer em ajudar, mas, bem, sabe como é, nem sempre... às vezes... só de vez em quando.... bem...
Super Herói 2: O que meu colega quis dizer por “idiotas” foi que se você tem um corpo tão frágil e um cérebro tão pequeno, não devia se arriscar tanto. 90% do nosso tempo é perdido salvando idiotas, hum hum, quero dizer, pessoas que se arriscam sem necessidade. Enquanto isso pessoas realmente em perigo, e que não se colocaram em situação de perigo por farra, sofrem por não podermos prever quem é “idiota” e quem não é.
Correspondente: Desculpe, mas como assim prever quem é idiota?
Super Herói 3: Eu consigo prever. Quem grita mais alto por socorro é sempre o idiota. O verdadeiro inocente sempre soa absolutamente surpreso. Alem do mais a vitima verdadeira sempre é grata enquanto o idiota, depois do susto, volta a ser um completo idiota agindo como se pudesse ter saído do apuro sozinho.
Super Herói 1: Não é bem assim, ele só está um pouco nervoso. A gente anda muito estressado.
Correspondente: Mas a, huhum, idiotice das pessoas, de algumas pessoas, justifica que deixem o mundo sem proteção?
Super Herói 2: Você nunca deixou de fazer algo por que não lhe dava mais nenhum prazer? Ou porque para você já não funcionava mais? Ou mesmo porque ficou de saco cheio?
Correspondente: Bem... Sim, mas eu não sou super herói.
Super Herói 3: Azar o seu.
Super Herói 2: Nossa condição não dá ao direito às pessoas de abusar da sorte.
Super Herói 1: Eu só tô meio cansadinho...
Super Herói 3: Você tem é o miolo mole. Se não fosse a gente decretar greve geral ainda tava por ai ajudando os idiotas.
Correspondentes: Não existe uma maneira de serem convencidos a voltar?
Super Herói 3: Claro. É só se livrar de todos os idiotas.
Super Herói 1: Não que me incomodem, mas ajudaria muito.
Super Herói 2: É, seria um alivio. A burrice entre seu povo parece estar se espalhando como doença. Erradicar seria inteligente.
Correspondente: Hummmm.... (desligando o gravador) É, seria bem legal. Vocês aceitam ajuda?

19 de jun. de 2007

Serial

Suas mãos eram quase femininas. Lisas e aparentemente macias. No entanto eram estranhamente másculas e meus olhos eram atraídos pelos seus movimentos sinuosos como o canário é atraído pela cobra. Ele não me tocara, não ainda e eu sabia que queria faze-lo, mas deixava suas mãos muito próximas das minhas que descansavam na mesa, dedos entrecruzados, quase como se rezasse. Sua voz macia dizia coisas por vezes chocantes, como se para me testar, mas na maior parte do tempo seu discurso era quase doce. Eu fechei meus olhos por um momento e deixei que todo o resto desaparecesse e pude entender como fora fácil para ele. Sua aparência inocente, sua voz rouca e as mãos que eu sabia fortes eram tudo que precisava. Eu não precisava falar, ele bem sabia quem eu era e o que queria e parecia mais do que disposto a me revelar todo seu magnetismo e, entre linhas, suas intenções. Ele disse algo que me fez sorrir e isso pareceu o agradar muito. Bateu as mãos como uma criança feliz e me sorriu de volta mostrando os dentes perfeitos escondidos pelos lábios voluptuosos. Ele queria que eu o entendesse e eu entendia, mais do que ele gostaria, mais do que eu gostaria. Nem sempre a compreensão do que motiva o próximo nos alivia de nossos medos, talvez só os intensifique. Eu tentei falar, mas adivinhando que eu o deixaria tentou me fazer ficar confessando segredos em voz baixa e urgente, me entregando abruptamente o que por horas se recusara a revelar. Falou de cada detalhe com um prazer perverso, vendo meu rosto perder a cor apesar de meu treinamento, estreitando os olhos ao ver meus músculos se retesarem involuntariamente. E eu soube que era assim que ele agia sempre. Era muito fácil perceber sua excitação crescente ao ver meu desconforto. A dança da conquista finda e a perseguição implacável iniciada. O terrorismo mental, o antecipar o horror da vitima ao contar como terminará antes mesmo que ela saiba, antes mesmo que ela perceba que sua vida não vale mais nada. Levantei de repente sem deixar que ele terminasse e a fúria que se seguiu transformou o príncipe em monstro. As mãos delgadas agarraram meus pulsos e os dois guardas presentes pouco puderam fazer a não ser pedir por socorro. Ele me queria, como quisera as 23 mulheres antes de mim. Ele precisava que meu corpo perdesse o sangue vital, que meu pulmão arfasse em busca do ar, que meus olhos se fechassem para sempre. Nem mesmo na cadeia sua ânsia diminuira. Não era loucura, não era insanidade, era pura fúria. Mais guardas chegaram e eu fui libertada, mãos dormentes e rosto descomposto. Eu sabia o que tinha que fazer. Meu parecer era final. Ele seria julgado, condenado e executado. Eu seria responsável por isso, mas era a única saída. Somente assim eu poderia dormir novamente. Somente assim me sentiria segura.

18 de jun. de 2007

Itch


"Fill what's empty, empty what's full, and scratch where it itches." The Duchess of Windsor

É como um comichão em um lugar impossível de coçar. Dentro de meu cérebro. Eu tento ignorar, o corpo cansado ajuda, mas é como em uma musica clássica, que vem nunca crescendo infinito nunca permitindo que os pratos soem e os tambores rufem para o final magnífico. É um crescendo angustiante. É a inatividade forçada. Parar de escrever foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Mais difícil do que desistir de amar. Ainda mais difícil do que recomeçar a viver. Espantar as mil idéias como moscas incomodas foi torturante. Ignorar a maquina maníaca no canto do quarto com sua tela negra zombando de minha escolha foi ainda pior. Resolvo testar a propriedade da minha resolução e digo na frente de minha família que parei de escrever. Esperava por uma quadra de ases “Não faça isso. Continue.” Mas acabei com um par de setes em uma mesa de jogos altos. Só silencio. É triste como se demora a perceber que uma hora se deve fazer o que gosta sem esperar pela aprovação dos que amamos, nem sempre eles se importam. Nem sempre é importante para eles o que é importante para nós. Demorou para que os emails e comentários dos amigos atingisse o nervo. Eles diziam “Coce! Você é boa nisso. A gente ajuda. Uma coçadinha aqui, uma ali... Não se sente melhor agora?” Sinto-me muito melhor. Obrigada.

Até amanhã.