5 de jul. de 2009

O Despertar (1° Parte)


O arco era grande demais para seus braços ainda infantis, mas o carregava assim mesmo. A guerreira caminhava à sua frente a passos largos. Analice sempre quisera ver uma e agora ali estava, bem a sua frente, e não conseguia despregar os olhos da figura altiva mesmo que isso a fizesse tropeçar a cada poucos metros. E novamente seu pé se enroscou em uma raiz e a pobre garota foi ao chão. Abraçou o arco com força protegendo o precioso objeto e esperou pelo impacto. Braços fortes a seguraram a centímetros do chão e ela esperou pela reprimenda que com certeza viria. Sua mãe sempre a chamava de desajeitada e talvez estivesse certa em fazê-lo.
“Calma garota, cuidado por onde anda. Me dê o arco, é muito grande para você.”
Mas Analice, sem achar voz para responder somente abraçou o arco com força.
“Teimosa. Se cair novamente posso não te pegar a tempo. Pode ficar por aqui se quiser, não precisa me acompanhar.”
Analice, sem responder, continuou a acompanhar a guerreira que suspirou alto e sorriu. Ela via meninas assim por todas as vilas em que passava, encantadas com sua espada, seu arco, suas roupas de boa qualidade. Nenhuma delas via as cicatrizes na pele e na alma que devia carregar por toda uma vida.
Esse era um mundo ainda procurando por uma nova identidade. Depois das guerras, da revolta das mães, das bombas, do século abaixo da terra, dos anos procurando por uma forma de viver entre escombros, poucos se sentiam confortáveis com suas vidas. As historias do passado eram mantidas vivas e todos sabiam do conforto e tecnologia partilhados por seus ancestrais. Muitos acreditavam que deviam voltar às cidades, revitalizar os arranha-céus, reviver as usinas, mas a maior parte tinha medo. A maioria se sentia segura atrás dos muros altos das vilas em volta dos castelos que agora pontilhavam o mundo. Nos últimos séculos ainda era a maneira mais segura de se proteger com tantos bandos à procura dos fracos e desgarrados.
As guerreiras existiam desde o fim do mundo. Depois das bombas as mães tomaram o controle do que restara e as ancestrais destas mulheres eram agora a lei na terra semi-selvagem que herdaram. Delas era a ultima palavra e delas vinha a sentença e a punição. Não havia segunda chance, àquele que desobedecia a lei era esperada somente a morte.
Analice olhava para a guerreira com esperança e espanto. A mulher usava camisão de algodão branco, calça de couro e bota alta do mesmo material. Analice nunca vira roupas tão bem feitas, mas sabia que as guerreiras sempre ganhavam o que havia de melhor pela proteção que ofertavam. Nunca cobravam pelos seus serviços, mas eram tratadas como realeza, aceitavam as ofertas com graça, mas nunca levavam mais do que julgavam que uma vila podia oferecer.
Chegaram ao rio que separava os campos da vila da imensidão além e lá encontraram os amimais que o bando atacara nas ultimas semanas. Eles não levaram o gado, não se deram a esse trabalho, simplesmente mataram algumas cabeças e retiraram a carne que desejavam e voltavam quando precisavam de mais. Era por isso que a guerreira viera, o roubo era um dos piores crimes, pois ignorava a posse de outros e o respeito que cada ser humano deve ao outro.
CONTINUA...
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