Caro anônimo, deixe sempre seu email.
Quanto à meu livro e musica preferido... Uau, você pegou uma pessoa difícil para responder uma pergunta tão fácil. Tenho escritores de todos os tipos para todas as ocasiões, alguns livros que amo nunca tentei um segundo do mesmo autor, e outros autores eu coleciono os livros obsessivamente.
Da-se o mesmo com musica. Algumas bandas me agradam sempre e outros são passageiros ou se restringem a uma ou outra musica.
Sendo assim sua resposta é bem mais longa do que espera.
Autores:
Os seguintes autores são meus guias ou simplesmente meu divertimento.
Stephen King, Charles Dickens, Shakespeare, Jane Austen, Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Meg Cabbot, Alexandre Dumas, Ayn Rand, Janet Evanovich, Patrick O'Brian, Lemony Snicket, JK Rowling, as irmãs Brontë e, claro, Agatha Christie.
Existem outros, existem muitos livros que amo como How to kill a Mockingbird e Rebecca que releio até suas paginas caírem.
Alem destes tenho pilhas de livro pipoca, principalmente suspense e policiais que devoro com prazer.
Musica:
No momento meu MP3 está tocando sem parar Richard Ashcroft, Paolo Nutini e algumas de Natasha Bedingfield com ênfase em Richard Ashcroft principalmente Music is Power. O que nunca sai do MP3 é Red Hot Chili Peppers, não vivo sem eles. Tenho também um longo relacionamento com Simple Red, The Who, Rolling Stones e Beatles. Adoro Aretha Franklin quando estou escrevendo contos suaves, Carmina Burana para os góticos e Red Hot Chili Peppers para quase todos os outros. Pode jogar Foo Fighters na frigideira também. E adoro ópera e clássicos.
Kiss
Com a mão esquerda na tala e remédio pra inflamação do tendão.
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1 de dez. de 2008
30 de nov. de 2008
A Primeira

O pulso irradia uma dor imensa para todo o braço. O sinusite faz o nariz parecer cheio de algodão, a garganta dói assim como o ouvido esquerdo e nem falo da cólica porque passe a noite a ignorando porque o resto já é por demais desconfortável. Levanto no sábado sonhando com um dia de sofá e comida que desça sem esforço e então me lembro que algo importante vai acontecer nessa tarde. Lembro de minha querida amiga Vivian dizendo “Não vá esperando demais, são somente crianças.” Mas eu espero. O banho me devolve um pouco da cor e me deixa disposta para enfrentar as próximas horas. Me arrumo como posso e pego a chave do carro das mãos de mano Urso com um suspiro cansado. O transito é infernal, me faz odiar essa insanidade natalina, e demoro quase uma hora para chegar ao colégio onde se apresentará a peça. No auditório as famílias se reúnem e todos conversam entre si. Sento-me na terceira fila sozinha. Ninguém me conhecem alem de Vivian que está por trás provavelmente dando o ultimo retoque nas crianças. A coordenadora por fim aparece, acompanhada por minha amiga, e ambas falam algumas palavras. Vivian me embaraça quase até as lagrimas quando me apresenta e todos se viram para me olhar a aplaudem. Sorrio sem jeito sabendo que estou roxa e quando mais roxa me penso, mais roxa fico. Por fim a peça começa e eu rio mesmo sabendo cada palavra, já que eu que as escrevi. Rio do riso dos outros e rio de prazer. Tudo acaba rápido e mal abraço Vivian já fujo, será que todo autor tem medo de ouvir o que dizem de sua obra? Mas o riso me disse o que eu precisava saber, riso de adultos levados à ele por atores mirins e minhas palavras. O transito já não me incomoda, meu pulso machucado é ignorado assim como a cólica e a rinite. Sorrio até chegar em casa e devo confessar que ainda estou sorrindo.
Meu primeiro beijo me deixou tremula e extasiada. Meu primeiro emprego me fez ver um futuro até então inimaginável. Meu primeiro carro me deu liberdade. Meu primeiro conto me fez, felizmente, insana. Minha primeira peça, encenada por vozes inocentes e doces, me fez ver uma luz no fim de um túnel longo demais.
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28 de nov. de 2008
Sentença

O edifício de consultórios era muito parecido com os outros em que estivera no ultimo mês. Salas esterilizadas, recepcionistas de sorriso vazio, longa espera pelo mesmo resultado. Ele se prometera que era a ultima vez. Todos até agora concordavam que sua expectativa de vida era de no máximo um ano. O que mais o incomodava era a voz impessoal que tentava parecer empática, mas que se você fosse atento o suficiente, somente parecia robótica e repetitiva. A recepcionista deste consultório não parecia nada diferente, pediu para ele aguardar com a indiferença destas profissionais e voltou a ler a revista de fofoca enquanto mascava seu chiclete. Alguns rostos a sua volta eram parecidos ao seu, pálidos e sombrios, a espera do fim. Outros, apesar de claramente sofridos, tinham uma aparência pacifica e de quase contentamento. Foi chamado somente com dez minutos de atraso e entrou no consultório mais pessoal que já vira em sua vida. As paredes eram de um tom alegre de amarelo, não o amarelo ovo, mas como as dunas do deserto batidas pelo sol. A parede ao fundo ela tomada por uma enorme janela, a oposta onde a porta se encontra era coberta por fotos de pessoas com sorrisos plácidos, famílias felizes, pescarias e muitos cães, a da direita era uma imensa estante coberta de livros de cima abaixo e a maior parte deles era de ficção, a ultima era reservada aos diplomas e muitos troféus de golfe. Na mesa enorme à frente da janela o medico menos ortodoxo o esperava. Era oriental, não mais de 1,65 mt de altura, usava uma calça jeans muito desbotada e uma camisa daquelas que turistas compram no Hawai, com abacaxis e palmeiras, para terminar usava um tênis amarelo ovo. Seu sorriso era acolhedor e nada profissional. Contou três piadas antes mesmo de abrir os exames de seu paciente. Examinou tudo meticulosamente, mas não parou de falar em tom de botequim “Você pesca? Nunca? Deve ir, posso te indicar um ligar ótimo. Gosta de Golfe? Nunca aprendeu? Parece chato, mas é uma arte.” Por fim terminou com os exames e encarou o paciente com tranqüilidade. “Sei que o senhor busca uma outra resposta, mas infelizmente eu tenho somente a mesma que já ouviu. Quanto tempo lhe deram?” O paciente disse que um ano e a isso o medico estalou a língua e deu uma risada divertida. “Há! Um ano! Quanta coisa se pode fazer em um ano... Mas um ano é uma estimativa tão boa quanto cinco ou dez. Já vi gente desenganada ignorar que lhe diziam que deviam morrer em 6 meses e teimaram em viver vários anos felizes. Eu lhe indico o mesmo tratamento que os outros, mas incluiria também acupuntura, varias estadas em spas, drenagem linfática deixa a gente todo lisinho, e se possível um passeio pela Europa na primavera. Já esteve na Europa na primavera? Morrer é o custo para estar vivo, meu caro, o segredo é como passamos o tempo que nos resta.” A consulta durou mais de uma hora. O paciente ouviu cada vez com mais prazer as piadas entre as sugestões de tratamento e quando saiu viu no reflexo da porta um rosto tranqüilo e quase contente. Durante dez anos ele voltou àquele consultório. Muitos meses eram bons, outros ruins, alguns péssimos, mas ele nunca esquecia o que o seu querido médico sempre lhe dizia: Viver, às vezes, é somente uma questão de vontade.
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27 de nov. de 2008
Linhas

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26 de nov. de 2008
Boas intenções

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25 de nov. de 2008
Ao fim... o que realmente importa?

Quando se olha para trás é importante ver montes, planícies, montanhas e não somente um deserto árido onde se respira somente sonhos nunca alcançados. É importante olhar para trás e lembrar do desespero, do amor, da tristeza, da paixão, do carinho. É importante olhar para trás e sentir que em sua vida houve de tudo um pouco e que cada lagrima foi contrabalançada por um sorriso.
24 de nov. de 2008
Lembrete a mim mesma

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15 de nov. de 2008
A Névoa

Do horizonte o manto branco vem cobrindo a cidade. Ninguém sabe o que pode ser, ninguém quer pensar nas possibilidades. Do alto dos edifícios as pessoas comentam como caminha lento e determinado, esse manto que agora parece dourado ao pôr do sol. Alguns sugerem um novo fenômeno, resultado do aquecimento global, da poluição, dos buracos na camada de ozônio. As pessoas esperam. É como se soubessem que tudo mudará depois que ele passar. Eu olho da minha janela e vejo a massa, que mais parece algodão doce, se aproximar, ela engole o chão e o céu, mas não apaga o sol. Não é uma névoa comum. Eu sinto. Não sei como será quando a noite cair. As pessoas já começaram a se desesperar a algumas horas. Do alto as vejo correndo como formigas no fim do verão, tentando achar um caminho para fugir do que quer que esteja vindo.
Era ainda cedo quando a internet saiu do ar e logo os celulares e os telefones fixos já não funcionavam também. As TVs ainda transmitiram até depois do almoço, aproveitando cada segundo que lhes restou para espalhar um terror que naquele momento nem se podia imaginar. Pela primeira vez em décadas eles estavam certos. Nesse ponto os escritórios já estavam vazios e as ruas cheias. A cidade parou. As pessoas tão acostumadas a depender de seus carros, relutavam em abandoná-los e eram alcançadas pela névoa. Fiquei na minha janela vendo o manto branco se estender. Vi pessoas correrem para ele como se fosse o caminho da liberdade, mas não vi ninguém sair de lá.
Já não vejo nenhum raio de sol, ele finalmente se pôs, talvez cansado dos gritos que tomaram o lugar das buzinas e do ruído dos motores. Não quero sair de casa para me desesperar na companhia de estranhos. Se não posso dizer adeus aos que amo, prefiro ficar e rezar para que estejam tão calmos como eu. Sim, porque é possível se desesperar em uma calma absoluta. Dou as costas à janela e olho para minha casa como se fosse pela primeira/ultima vez. Em minha cabeça lembro pedaços de “The Mist” do meu amado Stephen King e tantos outros contos e filmes que falam de horrores desconhecidos. Minha janela já se embaça com a proximidade da neblina que é muito mais densa do que imaginava. Deito em minha cama e espero. Fecho os olhos e sinto o ar gelando a minha volta e sei que a névoa me abraça. De certo modo é reconfortante.
Acordo e é dia. Meu corpo ainda está gelado apesar da manta e edredom que me cobrem. Pela janela vejo um céu azul como há muito tempo não podia nem sonhar ver em minha cidade. A parede de névoa ainda está lá, mas se afastando lentamente. Não fico colada às janelas, nem mesmo escovo os dentes ou alivio minha bexiga dolorida, corro escada abaixo para saber para que mundo acordei.
Somos poucos. Tão poucos. Andamos nos olhando entre desolados e maravilhados. Não podemos perceber nada em comum entre nós alem do fato de estarmos vivos. Somos brancos, negros, amarelos, jovens, velhos e crianças. Temos todas as idades, cores e tamanhos. O ar cheira a terra num mundo de concreto, existem flores brotando por entre o asfalto e dizem que os rios correm limpos e cheio de peixes. Para onde foram todos que não somos nós?
Faz um mês que a névoa limpou o mundo. E ele agora é lindo novamente.
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8 de nov. de 2008
Godbye Nani

Nana,
O que sobra de mim chora. Parece sempre que já não restam lagrimas, mas me surpreendo em senti-las correr livres pelo meu rosto cansado. É como se eu fosse menos eu mesma sem você e os outros que antes se foram pelo mesmo caminho recheado de salsichas. Não sinto meus braços e nem pernas, é como se eu fosse um tronco dolorido com dedos fantasmas que digitam meu adeus.
Eu sei que está cercada de seus amigos agora e que recuperou suas pernas e seu coraçãozinho já não pula incerto quando se anima. Sei que deve estar correndo entre eles feliz, mas, filha, eu morri mais um pouco hoje.
Um coração aos pedaços ainda é um coração? A tristeza infinita tem um fim? Quanto agüenta ainda bater um coração que não tem motivos para se surpreender?
Nana, mamãe te ama para sempre. O pouco que me resta nunca vai esquecer e não terá medo de recordar. Fui uma melhor humana em sua companhia, aprendi a amar melhor, a me resignar com menos revolta, a viver momentos simples com alegria extrema.
Desculpe se não pude conter suas dores e curar seus tumores, Deus me deu fé, mas infelizmente não colocou em minhas mãos a mágica que te faria perfeita novamente, me deu apenas um coração forte o suficiente para estar ao teu lado até o ultimo segundo.
Espero que no seu céu canino sua cama seja macia, o ar sempre fresco, a chuva caia refrescante e que existam flores que exalem meu cheiro para que não me esqueça.
Fica com Deus.
Eu, por aqui, fico somente mais triste.
Te amo.
Sua humana.
Mamãe
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1 de nov. de 2008
Pessoas que ultrapassam a faixa amarela me irritam.

Não é somente uma sugestão, nem mesmo é um pedido. É uma ordem. NÃO ultrapasse a faixa amarela. Mas não é o bastante. As pessoas parecem gostar de se colocar em perigo somente para dar trabalho aos outros, como aqueles idiotas que se arriscam nas geleiras e acabam virando picolé para todos depois dizerem que foi uma tragédia. Não. Na verdade foi uma completa IDIOTICE! As pessoas gostam de ultrapassar a faixa amarela principalmente quando existe uma platéia para vê-los dar o idiótico passo. Vocês podem até pensar que falo de jovens, cujos hormônios fazem idiotices sem nem mesmo a conivência do dito jovem, mas existem irresponsáveis de todas idades. Ontem mesmo, no metrô, um senhor de seus 60 anos, porte militar, cabelo escovinha ultrapassava, com um olhar arrogante, a faixa amarela que separa a todos do perigo. Ficou tão na ponta da plataforma que eu imaginei sua barriga sendo arrancada pelo trem que se aproximava. Pena, não foi desta vez. Mas o impacto da velocidade e do vento o jogou para trás uns 4 passos e lá ele ficou completamente revoltado por essa afronta. Reclamou em voz alta como se algum funcionário invisível do metrô o houvesse empurrado à força alem da linha de segurança.
Pessoas que ultrapassam a linha amarela me irritam, profundamente, porque em 99,99% das vezes não estão preparadas para enfrentar as conseqüências de sua idiotice.
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19 de out. de 2008
Regras da Sedução

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14 de out. de 2008
Ausência

(Somente a metade é verdade. Eu acho...)
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13 de out. de 2008
Não tema, trema...

Eu não quero esquecer o trema. Não interessa que não o uso com a freqüência (com trema) que deveria. O fato é que o trema é um dos únicos acentos que acho delicioso (por ser tão maravilhosamente inútil), parece uma cobertura de bolo bem mais saborosa que o recheio. Essa mudança nas regras da escrita já me dá nos nervos antes mesmo de entrar na moda. Eu que sempre fui péssima em português agora também vou ficar desatualizada, pois as únicas regras que consigo guardar já não valerão para nada. Estão tirando os únicos assentos que sei aonde vão e vão tornar coco e coco a mesma coisa e nunca vou saber do que é a merda do frappé (com acento). Melhor pedir sempre de chocolate ou morango. Acho que odeio mudanças (não as feitas por caminhões). Lembro quando um diretor veio todo animado dizer que iam trocar meu computador e que o novo que teria um mouse. “Mouse?!” Grito eu indignada, “não quero mouse, sei exatamente o que fazer SEM o mouse, tirem esse treco daqui e não me incomodem mais!” O mouse venceu ao final e hoje me pergunto o que seria de mim sem ele. Não estou comparando o trema ao mouse, mas me ressinto de me separar de amigos que há tão pouco tempo aprendi a respeitar. Sempre fui mais de números que de letras (samurai do Excel) e ainda me surpreendo quando dizem que eu escrevo bem, afinal não consegui aprender no colégio nem uma regra básica dessa língua infernal (pra que eu tenho que saber o que é pretérito imperfeito se já é passado?). Dou graças a Deus pelo corretor de textos e pelo mano Urso que me ensina (com cara de Santo Urso/pecador pagando pecado) enquanto corrige meus textos cheios de erros prosaicos. Depois de velha preciso somente escutar uma vez, ou no máximo duas, para guardar para sempre certas esquisitices que tornam a prosa inteligível. Enfim.... Nem sei porque estou tão irritada com o novo código, talvez porque somente agora consiga entender algo do velho? Enfim 2 a missão... vou esperar mano Urso me contar o que devo ou não fazer de agora em diante, mas tenho certeza que nunca deixarei de usar o trema, mesmo que ele somente venha à vida quando sugerido pelo corretor de texto.
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10 de out. de 2008
Caixinha de enxaqueca

Vivemos numa era de extremismos onde todos pregam o comedimento. Parece-me sempre que estou assistindo a um filme japonês com péssima dublagem onde as bocas falam muito mais do que o som que delas parece sair. Ouço as idéias mais idiotas ofertadas como prêmios Nobel e fico pensando se houve qualquer outra era em nossa historia onde tantos ignorantes dominaram o mundo. Não falo somente de nossos políticos, que ao redor do globo parecem competir pelo premio de maior charlatão do mundo, mas também das ditas celebridades, atores, cantores, escritores, diretores, e outros ores que ditam as tendências para o mundo. E que tendências.... Somos tratados como tolos, e a maioria da população o é, mas não existem mais aqueles poucos nichos criados especialmente para aqueles que gostam de usar a caixinha cinzenta que está presa dentro da cabeça e que em muitos serve somente para medir o tamanho da dor de cabeça. Tudo nos é apresentando como se fossemos lerdos demais e a maioria se torna lerda, esperando que digam o que deve ser feito, como e quando. Do meio dos pobres seres que somente usam a cabeça para as enxaquecas e daqueles que tentam nadar contra a corrente emburrecedora tentando aumentar a cada dia sua capacidade cerebral, surgem estes cartoons cujas bocas pronunciam em japonês o que as vozes dizem em norueguês. Ninguém entende, mas é melhor segui-los. Ou não? Não sei o que leva o mundo a andar para o lado que anda, não entendo e talvez nem queira. Acho que prefiro criar na tela branca do meu laptop o que gostaria de ver quando ando pela rua. Gente pensante desapegada de modismos, que questiona o que vê e ouve e que sorri com mais sinceridade, pois sabe de onde vem a graça. Gente com senso de humor e maior ainda senso de justiça. Gente honesta e cheia de brios que não tem medo de expor suas idéias mesmo quando elas vão contra a maré. Gente que eu gostaria de conhecer.
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23 de set. de 2008
A Arte da Sedução

20 de set. de 2008
Dever
Recebeu suas ordens com um aceno de cabeça, o rosto sempre o mesmo, duro e decidido, mas por dentro gritava à plenos pulmões em revolta e terror. A sala estava lotada com outros pilotos como ele, todos em suas roupas especiais feitas para suportar a violência da velocidade, que o olhavam com inveja e talvez um pouco de alivio por não terem sido escolhidos.
Deixara sua casa naquela manha com um beijo na testa de sua mulher e vários pelo corpo ainda tão gorducho de seu filho. Pensara que tinha sorte de viver o sonho de muitos, de lutar pela sua pátria e a liberdade do mundo, agora parecia que um pesadelo se insinuava em seu conto de fadas. Não podia mais se ver como o cavalheiro de armadura brilhante que mata o dragão, na verdade se sentia como o feiticeiro cruel que aprecia o sangue inocente desperdiçado. O que pode fazer um homem que jurou obedecer? Como pode dizer que “Não, isso é desumano, nem mesmo pela minha nação, nem mesmo pela minha família. NÃO!”. O dever incutido em cada fibra de seu corpo o fez caminhar até o avião de linhas perfeitas que o aguardava no hangar, uma maquina perfeita de linhas sensuais e apetrechos letais. Duas linhas de homens o esperavam como para dar suas benções, mas o que sabiam eles? Completa ou não a missão ele estaria condenado. Se falhasse seus pares o olhariam com desprezo, se tivesse sucesso seu espírito se quebraria para sempre.
A cabine do avião parecia pequena demais agora, pequena demais para ele e suas duvidas, ele e seus demônios. A ordem fora simples, destruir o esconderijo e tudo à sua volta, a escola, a creche e o centro comunitário onde as mulheres se reuniam para fazer artesanato. Para sua grande nação as perdas são aceitáveis.
A turbina rugiu alto, seu corpo se preparou para ser moldado ao assento pela velocidade. Ele sabia o que fazer e algumas horas depois o fez. Era o seu dever. A merda do seu dever.
15 de set. de 2008
Por trás da teia

9 de set. de 2008
30 de ago. de 2008
Até breve, Magali

Minha ursinha, perder você é mais um prego cravado em meu coração. Não sei o que resta, resta pouco eu sei. Cada dia tenho menos do que amo e isso me assusta, pois para o que se pode viver senão para quem se ama? Já sinto falta do seu jeito quieto e seus olhos de chocolate. Apesar de ser em outros pés que sempre se aninhava, são os meus que sentem falta do seu calor. Não sei o que aconteceu e peço perdão se deixei que algo te fizesse sofrer. Sinto-me indefesa e impotente perdendo meus mais amados companheiros sem aviso. Culpa minha? Destino? Que destino pode ser tão perverso de me negar mais uns anos de felicidade? Minha ursinha, você foi mais uma luz a iluminar a vida sem graça e mais um motivo para que eu continuasse voltando para casa noite após noite. Seja doce com seu pai e seu filho que a esperam no paraíso, sei que a receberão com latidos e abanos de rabo de felicidade. Eu fico aqui, cuidando de sua mãe, irmão e filha e somente digo: Até breve. Cuida bem de mais esse pedacinho do meu coração que se quebrou e me devolva quando nos encontrarmos novamente.
Te amo,
Mamãe
24 de ago. de 2008
Máscaras

Para mim é difícil não observar as pessoas. É como se eu precisasse estudá-las constantemente para entender para onde o mundo está indo. E ele está indo para o buraco. Não é só no rosto que podemos ler quem realmente são aqueles à nossa frente, mas também na postura de seus corpos. Infelizmente, cada vez mais, cada expressão e gesto é estudado. Estudado demais para meu conforto. Não é somente naqueles primeiros momentos, onde todos usamos nossas melhores máscaras para passar uma boa impressão, que vejo dissimulação, é como se todos de repente quisessem ser atores num mesmo cenário. Gestos naturais são cada vez raros e relacionamentos completamente honestos ainda mais. Quando olho à minha volto vejo máscaras e as imagino ressecadas e quebradiças ao sol mostrando a verdade que ninguém quer revelar. O que tanto escondem? Porque poses e bocas e gestos estudados? Será que já não temos face para mostrar? Porque ser político é mais importante que se ser honesto? Onde está a verdade em esconder nossa aversão ou amor? Acho que não nasci para um mundo onde se é preciso ensaiar cada frase dita. Não sou cautelosa o suficiente para pesar minhas palavras a todo o momento, minha sinceridade brusca está desatualizada, meu humor acido está condenado. Mudar? Nem pensar. Em duas semanas chego aos 45 e se a idade te dá algo é a rara oportunidade de se aceitar mesmo que o modelo esteja gasto. Alguém disse que nunca mudamos, somente nos tornamos cada vez mais o que somos. Essa sou eu e deixo as máscaras para os que têm o que esconder. Prefiro meu rosto ao vento, meu humor negro e meus sentimentos claros. Que seja. Desatualizada ou não aqui estou. Sem máscaras.
19 de ago. de 2008
A Janela

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15 de ago. de 2008
Os Pescadores de Perolas

Eu sei o eu vai acontecer, claro que sei, não é assim todo mês? Não me esgueiro pelos cantos, antes de ir para casa, para me dar o prazer de uma espiada disfarçada pela xícara de expresso? Eu sei o que vai acontecer.
Ele sempre me conta um pouco, cantarola uma ária enquanto com mãos expressivas conduz uma orquestra imaginaria. Ele sabe que amo o que faz e o que faz é me dar mais sonhos para sonhar. Quem pode recusar quimeras quando o mundo é um deserto árido e claustrofóbico repleto de seres sem imaginação? Durante o almoço observo enquanto corrimões são envolvidos em redes e tecidos diáfanos despencam do teto de concreto, sorrio por cima de minha alface pensando “Ah, Iacov, o que virá?” Termino o dia com a excitação que somente estas quintas-feiras me dão. Desço já com meu sorriso a postos, pois sei o que vai acontecer.
Uso de minha posição privilegiada de funcionaria para entrar de fininho no que horas antes era uma cafeteria. Os corrimões sumiram, a galeria evaporou, a livraria se encontra perdida em brumas, do nada escorrem fios de brilhantes e perolas que quase roçam minha cabeça. Ignoro as cadeiras, pois para mim não existem assim como o corrimão e a galeria. São somente espectadoras, como aqueles que nelas se sentarão, do drama que logo irá se desenrolar.
Olho o relógio, fumo um cigarro, olho o relógio, tomo um café, olho o relógio, recebo algumas pessoas, olho o relógio, fumo mais um cigarro, olho o relógio, entro e me sento, separada por uma coluna, daquele que é o mestre da musica.
Eu sei o que vai acontecer. A voz querida apresenta o mestre da musica, que me lembra sempre um duque ou conde ou seja lá que titulo que leve as pessoas a querer se curvar e dizer “Sir!” Sua voz imediatamente me transporta para muito longe, tão longe que me esqueço a que mundo pertenço. A musica começa, o que dedilha o piano o faz com maestria e os que juntam suas vozes ao instrumento provocam arrepios em minha espinha. Quando mexo meus pés sinto areia sob eles, quando viro meu rosto sinto a brisa do mar e o grito dos pescadores de perolas voltando para casa ecoa em meus ouvidos.
Tudo termina rápido demais. O amor sobreviveu à intriga, mas não sem pagar um certo preço em sangue. Não é sempre assim? Eu já não sabia que seria assim? Mas o que importa, pelo menos para mim, é que mesmo sabendo o que vai acontecer, mesmo sabendo que por trás da bruma se encontra todo meu cotidiano, ainda saio com o coração leve e agradecido. Trago para casa uma perola que pescador nenhum poderá me dar, a lembrança de mais uma noite mágica com Iacov Hillel e Mauro Wrona. Obrigada.
Pescadores de Perolas no Centro da Cultura Judaica, Domingo, 17/08, 19h00.
14 de jul. de 2008
Uma Questão de Negócios

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O sorriso era amistoso, apesar dos dentes que brilhavam por entre os lábios serem tão afiados e a mão que a convidava a sentar ser tão branca que a luz vinda da lareira parecia atravessá-la.
Em sua cabeça ela ouviu as linhas da historia infantil “Para que dentes tão grandes, vovózinha?”, “Para te comer, minha netinha!”. Reprimiu a custo uma risada nervosa que sabia que teria se espalhado em ecos infinitos pela parede do castelo.
- Suas referencias são maravilhosas. Governanta na casa do Duque D e também na casa do Lorde L e assistente pessoal do Primeiro Ministro J. O que a fez sair destes empregos? - A voz do Conde era melodiosa e um tanto quanto melancólica.
- Bem, não haviam desafios e com o tempo eu senti necessidade de mudar, mas sai em bons termos de todos. Posso dizer que tenho a honra de constar na lista de pessoas de confiança de meus antigos empregadores. – Ela não o olhava nos olhos. Os dele pareciam ser feitos de fogo liquido em um continuo redemoinho e mais do que a intimidavam, a faziam temer ser hipnotizada e levada alem da sanidade.
- Ah.... lhe faltava aventura, presumo. Algo mais do que o mundano, algo alem da rotina.
- Não....Sim... Quer dizer, todos esperamos por um pouco de emoção em nossas vidas, não é? Algo que faça nosso sangue correr.... - Se arrependeu das palavras logo que as disse. Mencionar sangue para um Conde pálido, de dentes afiados, em um castelo decrépito era um risco grande demais.
- Sim. O sangue, tudo sempre se resume a ele. O queremos frio em nossas veias para tomar decisões. O queremos quente para saborear melhor as paixões. O queremos correndo, como fogo liquido, para nos excitar diante do perigo. – E os dentes brancos e estranhamente sedutores morderam os lábios vermelhos.
- Bem, o senhor me desculpe, mas acho que foi um erro essa entrevista. O castelo é muito distante e...
- Não, por favor, não se negue. Não vê que sofro? - e ele realmente parecia cansado e abatido. - Minha casa ancestral é uma ruína. Meus servos não têm uma mão firme que os comande e não faço uma refeição decente há séculos.
- O senhor come? - ela perguntou curiosa.
- A curiosidade maior que o medo....- e ele sorriu animado. - sabe quem sou e ainda assim.... mas, respondendo a sua pergunta. Sim. Eu como. Sopas, vitaminas e afins. É preciso imaginação para preparar minhas refeições, mas minha maior preocupação é com o castelo. Não vejo porque tenho que viver em meio à teias de aranhas e pó secular. Nem entendo porque me visto à rigor se minha casa parece prestes a desabar. Preciso de ajuda. – e seu rosto se torceu angustiado.
- Mas...mas... o risco... sei que disse que gostaria de mais aventuras, mas trabalhar aqui... com o senhor...
- Minha cara, os tempos modernos são incríveis. Posso não conseguir uma governanta, mas tenho TV à cabo e conexão rápida para a Internet. Faço compras online como qualquer um e os bancos de sangue estão sempre prontos a me atender à qualquer hora. Posso até mesmo escolher o tipo sangüíneo que prefiro. O- é uma iguaria, mas ultimamente anda em falta no mercado. Portanto o único risco que correria aqui seria tropeçar nas teias de aranha e cair escada abaixo. Já há muito tempo que não ataco pescoços. O ultimo bom dentista que conheci faleceu em 1930 e o que veio depois quase me pôs a perder um canino. Imagina o que é um canino para mim?
- Mas o castelo é imenso! Eu sozinha não daria conta.
- Tenho muitos servos. Inúteis todos eles, mas a meu comando te obedecerão cegamente. Reinsfield! - ele chamou sem levantar a voz e quase de imediato um homem maltrapilho entrou meio curvado. - Reinsfield, de hoje em diante você e os outros obedecerão essa senhorita cegamente. Aquele que ousar encostar a mão nela ou lhe faltar com o respeito sofrerá dois séculos de torturas. E, pelo amor de Deus, tome um banho e vista-se decentemente. Pode ir.
- Sim, mestre. - E tão silenciosamente como havia surgido ele se foi.
- Vê? Rios de dinheiro, a vida eterna e se contentam em andar pelas sombras vestindo farrapos. Preciso de você para que trazer o mundo moderno para minha realidade.
- Conde, não nos apressemos. Nem mesmo falamos sobre remuneração e nem nos benefícios. Apesar de ansiar por uma vida mais aventureira não serei leviana no que diz respeito à minha carreira. - antes de tudo ela era uma mulher muito pratica.
- Seu salário será de 10.000 libras por mês, folgas aos domingos e duas férias, de quatro semanas cada, por ano onde poderá desfrutar de minhas propriedades na Reviera, Escócia, Grécia, Estados Unidos, Itália, França, Irlanda e se não estou enganado existe também uma fazenda no Brasil. Claro que citei somente os lugares que imagino possam atraí-la, mas pode escolher entre qualquer uma das minhas propriedades.
Ela quase não respirava. Não era somente a riqueza nunca sonhada, mas também o desafio e a aventura que lhe faltavam. Era como uma negociação qualquer, mas com tantas possibilidades....
- Não me faça sofrer mais, desde que vi seu currículo que sonho com uma casa brilhante onde possa receber sem vergonha. Se a proposta não lhe é atraente me diga, minha fortuna está em suas mãos. - Ele tinha lagrimas sangüíneas nos olhos e seus caninos agudos mordiam os lábios de ansiedade.
- A proposta é ótima, senhor Conde. Só o que me atrevo a dizer é que, apesar de gostar de aventuras, dormir em um castelo com seus servos e suas noivas.... o senhor as tem ainda, não? As vi em muitos filmes e elas não parecem do tipo de obedecer à regras, mesmo impostas pelo senhor.
- Ah, sim, minhas noivas. Criaturas tolas. Poderiam ter feito dessa casa o castelo mais rico do mundo, mas só dormem nas masmorras em meio à sujeira e na companhia dos ratos. Você está certa. Tenho uma casa, nem 500 metros daqui, seria a casa do administrador se eu o tivesse. É sua. Amanha mesmo mando plantarem alho em toda sua volta e pedirei ao padre da vila que benza seu terreno. Vê meu desespero? Só quero ser normal...- Uma lagrima vermelha se desprendeu dos olhos e correu a face triste.
Ela se levantou e lhe estendeu a mão diminuta. O negocio estava selado. No dia seguinte ela se mudou para a casa cercada por plantações de alho e onde o terreno tinha sido aspergido com água benta. Logo o castelo ganhou vida. Reformas foram feitas, moveis novos comprados, cortinas e roupas de cama, mesa e banho encomendadas. E ela, a pequena governanta, era a rainha, somente ela geria toda fortuna acumulada por séculos. As pessoas vieram, governantes, diplomatas, nobres, todos para conhecer o castelo que saíra das brumas para o esplendor. Ela, feliz como nunca, passava horas inventando pratos líquidos para o deleite de seu patrão. Ele, remoçado, lhe adivinhava os desejos e a cobria de presentes.
No fim, foi tudo somente uma questão de negócios.
7 de jul. de 2008
O dia que assassinaram Hamlet

Se fosse por minha vontade cortaria todo o primeiro ato para os 5 minutos em que Wagner Moura não ficou pulando pelo palco como um ornitorrinco bêbado. Nestes minutos ele esteve bem, dramático e cômico sem apelação, mas foram somente 5 minutos das quase duas horas do primeiro ato.
Shakespeare pode ser atualizado, simplificado, adaptado, mas se você quiser se manter fiel ao texto não tente transformar suas belas palavras em gritos exagerados e loucura desvairada. Em certos momentos o discurso insano de Hamlet é até incompreensível pois Wagner Moura grita tanto que seu sotaque baiano ganha e só o que se pode imaginar é que definitivamente este Hamlet não bate bem da bola.
Rainha Gertrudes é carioca, com certeza, Ss e Rs tão carregados que quando se diz no reino da Dinamarca dá para rir como se fosse piada. Rei Claudius pensa estar em novela cômica da globo e em vez de insidioso parece patético, em vez de maquiavélico parece ridículo, em vez de rei parece chefe do jogo do bicho. Seus gritos, como os de Hamlet, em vez de mostrarem ira ou medo somente evidenciam descontrole e mais, evidenciam o fato de que o ator perde suas falas a todo o momento, cuspindo entre os gritos até achar a palavra certa.
Horacio se dá bem, contido, amigo e confidente, sobressai em meio à confusão não vulgarizando um personagem amado por todos.
Ofélia é bela, doce e sempre no tom certo, sei que já vi esta menina em algum lugar e espero que ela tenha mais sorte numa outra peça, pois sua presença é reconfortante dentre o caos generalizado.
Polônios pensa estar no Show dos trapalhões. O personagem que deveria ser bajulador, cheio de si e de sua importância se torna, nesta leitura, somente um falastrão ridículo que quer por força arrancar risadas mesmo quando o drama corre solto.
Hamlet é um drama, com momentos de extrema comicidade, mas este que vi é somente um pastelão inspirado em um clássico.
Saí ao fim do primeiro ato sem um segundo de hesitação. Para mim Hamlet foi assassinado bem antes do tempo.
Quem teve o bom senso de ler a peça ou de assistir o filme de Kenneth Branagh sabe que Hamlet é dor e rancor, mesclado com o riso do disfarce forçado e finalizado com lagrimas sinceras pela queda de um reino onde a honra ficou esquecida num passado longínquo.
The rest is silence.
Domingo, 06/07/2008, Teatro FAAP, 18h00 (deselegantemente começou às 18h20.
6 de jul. de 2008
O Morto

- Morto!
- Mas morto… Como?
- E eu que sei! Se nem sei quem é o morto!
- Mas ele tá no seu sofá, Ana!
O dia acabava de amanhecer e o sol mal chegava no hall minúsculo do apartamento onde as duas mulheres falavam aos sussurros. A sala se abria aos seus olhos incrédulos e o morto estava instalado, confortavelmente, em um dos sofás baixos e modernos. Era obvio, pelo estado catastrófico do aposento, que a festa da noite anterior tivera mais convidados do que o pequeno aposento comportava. Copos e restos de salgadinhos por todos os cantos, cheiro de cerveja derramada e suor de muitos corpos em uma noite de verão.
- Só o sofá é meu, Denise, não o morto. Alias nem sei quem é ele. Você lembra com quem ele veio?
- Lembrar? Não lembro nem com quem EU vim, depois de tanta Vodka e ainda mais com você me tirando da cama às 5 da manhã de Domingo. Eu tinha acabado de deitar.
- E quem eu ia chamar? A policia? Alem do mais foi você que me convenceu a me dar essa festa pra inaugurar o apartamento. E vê só como terminou? Essa sujeira, copo pra todo lado e um morto no meu sofá.
- Tá bom, eu divido a culpa sobre a festa, mas eu sai daqui antes do morto morrer.
- Como você sabe? Nem eu vi o morto morto. Eu....
- Você o que? Aha, Ana!!! Você foi pro quanto com alguém antes da festa acabar, não é? Eu sabia!!! Foi o Mario?
- Não, e isso não interessa. O que interessa é: O que eu faço com esse morto?
- Bom, precisamos nos livrar dele. Vamos deixar ele num banco de praça e pronto.
- E como a gente faz isso?
- Carregamos como se estivesse bêbado, já vi isso num filme. Nessa hora não tem ninguém na rua e é só largar o coitado em alguma praça.
- Tá bom. Vamos nessa.
Carregar o morto era mais difícil do que parecia, mas as duas conseguiram entrar com ele no elevador. Quando as portas se abriram no subsolo deram de cara com o zelador, de olhar sonolento e aparência desleixada.
- Morto?
- Como assim, morto? – Ana perguntou tentando parecer ingênua.- Ele tá só bêbado.
- Tá não, moça. Esse ai tá morto. Vai levar pra onde.
- Não sei.... – Ela entregou resignada
- Larga em alguma esquina. Logo acham ele.
- Mas, seu Zé, mal estamos conseguindo segurar ele agora. Enfiar ele no carro e tirar vai ser mais difícil ainda.
- Eu ajudo, deixa só avisar a patroa que vou sair.
Ele se foi e voltou depois de 5 minutos seguido de uma mulher baixa e morena que devia ser a patroa.
- Morto, né? Foi na festa que a moça deu? Bebida ou droga?
- Não sei, nem sei quem é ele. – respondeu Ana sem graça.
- Ahh, esses morto são os pior.
O marido se despediu da esposa e enfiou o morto no carro de Ana sem compaixão. Acharam uma praça deserta facilmente e descarregaram o morto o sentando em um banco. Ficaram os três olhando para o homem sem perceber que duas velhas senhoras se aproximavam com seus poodles.
- Ih!!! Morto? – perguntou a mais velha das velhas
- Claro que tá morto, que pergunta besta, Madalena. – respondeu a mais nova das velhas.
Os três, Ana, Denise e o zelador deram um pulo e encararam as duas velhas que se aproximaram do morto sem hesitação.
- Morto arrumadinho... Tava numa festa, é? Foi drogas ou sexo? – Disse a mais velha.
- Tá na cara que foi sexo, é sempre sexo nesses dias. Com qual das duas foi? – Perguntou a mais nova olhando de Ana para Denise.
- Nenhuma, nem sabemos quem é o morto. Ele amanheceu morto, só isso. – Denise começou a perder a calma. – Olha, precisamos ir....
As duas senhoras deram de ombros e continuaram a investigar o defunto enquanto os três se viravam para voltar ao carro. Uma viatura da policia estava parada, bem atrás do carro de Ana e dois policiais saltavam olhando para eles. Aproximaram-se conversando, com copos de café nas mãos e andar cansado.
- Morto é? – Perguntou o mais baixo.
- Mortinho. – Respondeu a mais velha das velhas.
- Mas falaram que não foi sexo. – Disse a mais nova delas.
- Deve ter sido drogas, então. – Disse o mais alto dos policiais.
- Não tem cara de drogado, só de safado. Ainda acho que foi sexo. – Disse a mais nova das velhas.
- Já disse que não foi sexo. – Gritou Ana irritada.
- A senhora conhece o morto? – Perguntou o mais alto dos policiais.
- Nunca vi o morto vivo, se o senhor quer saber.
- E vocês, conheciam o morto? – Perguntou o mais baixo olhando para Denise e o zelador que acenaram um rápido não.
- Então é melhor que a gente chame o rabecão pra levar o pacote. Alguém quer acompanhar o defunto? – Ofereceu o mais baixo.
Os três recusaram e as duas senhoras também, com certa tristeza, já que tinham que passear com seus cães. Os policiais, alto e baixo, deram de ombros e foram para o carro chamar o rabecão. Ana, Denise e o zelador foram andando bem devagar até o carro, esperando pelo momento em que os mandariam parar, mas ninguém o fez. Entraram no carro e partiram dando a volta na praça devagar como se não tivessem pressa. Os policiais acenaram adeus e as duas velhas, agora sentadas flanqueando o morto, também.
Na garagem do edifício a esposa do zelador os esperava e desejou um bom dia “pras moças” enquanto arrastava o marido para trocar a lâmpada da cozinha e reclamava que a maquina de levar tinha pifado de novo.
Ana e Denise voltaram para o apartamento e ficaram paradas no hall olhando uma para a outra sem entender o que havia se passado nas ultimas horas e como haviam saído de tudo sem um arranhão. Talvez seja assim com mortos anônimos, fica obvio para todos que ninguém é culpado, sendo assim só nos restam perguntas prosaicas e de interesse geral. “Foi bebida, drogas ou sexo?”
3 de jul. de 2008
A Viúva

30 de jun. de 2008
Madame Butterfly

Madame Butterfly é uma belíssima opera, me deixou sem fôlego e com o gosto amargo na boca que um bom drama deve deixar. Figurino riquíssimo, palco e iluminação perfeitos e personagens carismáticos, infelizmente as cadeiras rangedoras do Teatro Municipal muitas vezes abafaram as vozes lindíssimas dos cantores.
Mesmo assim voltarei, mesmo sabendo que a próxima ópera talvez esteja cheia de personagens pérfidos e inocentes imolados. É disso que é feita a bela ópera, de grandiosidade, drama, sangue e beleza.
Obrigada pela oportunidade, Diógenes, no palco você é tão belo como o é quando está ao meu lado. Kiss.
24 de jun. de 2008
Sapatos

20 de jun. de 2008
Um pequeno milagre...

17 de jun. de 2008
Noites Melancólicas

Dizem que ele surge em noites de neblina, quando o mar parece mais um céu cheio de nuvens. Dizem que é amaldiçoado e que ver sua silhueta é mau agouro. Mas isso é somente o que dizem. A lenda fala de um capitão cruel e de torturas sem fim, de porões de paredes tingidas de sangue e saques onde uma musica diabólica embalava piratas durante assassinatos e estupros. Quando ele surge no horizonte pode-se ver seu capitão em pé na proa, uma figura negra de cabelos longos que os dedos da neblina acariciam quase com carinho. Do navio só podemos adivinhar as formas elegantes e a potencia de seus canhões que estão sempre expostos por entre as portinholas abertas. Vemos também a sombra das velas negras que se debatem ao vento fantasma que não agita a neblina. É a imagem mais bela que pode surgir sobre esse mar céu da meia-noite, imagem que deveria inspirar enlevo e não temor, mas o ser humano parece sempre preferir acreditar no mal em vez do bem e isso talvez se deva à degeneração de nossa espécie. Eu , quando o imagino em meus sonhos, prefiro acreditar que este navio fantasma surge do fundo do oceano nas noites melancólicas. Nestas noites ele passeia pelo mar onde antes reinava, lembrando do balanço das ondas e dos portos onde outrora ancorava. Vagueia exalando suspiros entre as tabuas lustrosas e embalando uma tripulação de espectros que olha para o horizonte sem rancor. Não há porque ter medo, em noites melancólicas somente as boas lembranças conseguem emergir e apesar de nos causar saudade elas não produzem mal maior do que algumas lagrimas derramadas por um coração enternecido.
16 de jun. de 2008
Regras

15 de jun. de 2008
Quando velhos falam

Dividir experiências e memórias é o que nos resta. Não que não haja algo mais, mas se não tivermos para quem contar o que trazemos no peito o que fazer com toda essa bagagem? Vemos nossas mães e avós relembrando os velhos tempo, historias que já conhecemos, mas que sempre trazem algum detalhe novo, alguma pequena melhoria no roteiro. Não é somente para nosso entretenimento que cada momento de peso em suas vidas é repetido, mas, mais do que tudo, para lhes lembrar que suas vidas tiveram momentos marcantes, que suas vidas não foram em vão vividas. Nossos pais e avós nos lembram constantemente do que aprenderam nos tempos em que honra, dedicação e respeito queriam dizer algo mais que palavras vazias. Tentam, através de suas experiências, nos ensinar que somos responsáveis pelo que acontece ao nosso redor e que nossos erros podem ser concertados ou pelo menos minimizados se ousarmos nos responsabilizar por eles. Mães, pais, avós e avôs nos brindam constantemente com perolas que ignoramos por serem tão constantes. Falhamos em perceber que no meio do borbulhar constante de recordações está a chave para descobrirmos quem somos, pois de suas experiências resultou nossa educação, falha ou não. Passamos tempos demais tentando ignorar o que os velhos falam quando deveríamos lhes emprestar um instante nossos ouvidos e nos maravilhar por quantas mudanças foram capazes de passar, a quantos revezes sobrevieram e quantos amores lhes foram negados. Entender suas vidas é acharmos soluções para as nossas, pois cada vez que lamentam não ter seguido um caminho é como uma placa luminosa nos dizendo “Não desperdicem suas oportunidades. Não ignorem seus desejos”.
14 de jun. de 2008
No Puppet Here

2 de jun. de 2008
Inocência

1 de jun. de 2008
Bloody Depression

29 de mai. de 2008
Bondade

27 de mai. de 2008
O homem Verde

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