19 de ago. de 2008

A Janela

Começa tudo de novo. A janela aberta me mostra o ultimo andar da academia onde pessoas já cansadas perdem as poucas gramas ganhas em seus almoços. O calor volta e não me dá muito prazer. A não ser pela janela aberta.... Por ela entram sons e odores do mundo que me cerca e não me sinto isolada como quando o inverno me torna prisioneira de meu quarto. Alguém está queimando um sanduíche no tostex, conheço o cheiro, sei que vão ter que raspar a crosta queimada, mas o queijo pelo menos estará derretido. Os carros estão parados nos faróis, escuto as buzinas nervosas e sinto a frustração de seus motoristas na pele. Sei como é ficar presa em ruas sem fim enquanto o santuário de nossa casa parece nunca chegar. As arvores... quanto tempo não as aprecio? Quantos meses de noites olhando para a janela cerrada que me esconde as estrelas e me nega a brisa? O verão parece ter chegado meses antes do tempo e não me agrada, a não ser pela janela aberta. Ver o topo das arvores e sentir a brisa suave me ajudam a sonhar com lugares que há muito não visito, quase posso sentir o cheiro do pasto e ouvir o rugir da cachoeira que embalava tantas noites em tantos fins de semana. E me pergunto... O que seria de mim sem a memória? De onde viria a força para os tempos áridos, os verões impiedosos e os invernos de janelas fechadas? Começa tudo de novo, o bafo do metrô, as roupas que se grudam em meu corpo suado, o cabelo que cai sem jeito como se cansado, o rosto que parece sempre vermelho pelo esforço. Mas a janela, essa moldura para meu mundo noturno, essa porta para meus sonhos, está aberta e, pelo menos por agora, é somente o que importa.

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