Abriu os olhos, deixando que seu corpo despertasse lentamente. Não se passara muito tempo desde que Enair se fora, mas para Anya fora como uma noite toda bem dormida. Levantou testando os músculos cansados e a resistência dos curativos de seus ferimentos. Lavou o rosto com a água fria e vestiu-se de negro, para melhor se mesclar com a noite. Sua roupa era de um tecido macio e um tanto elástico, que apesar de fino era muito quente. Servia perfeitamente para o que Anya tinha em mente.
Enair podia estar sendo sincera dizendo que prezava sua segurança, mas uma guerreira está acostumada a encarar com seus próprios olhos o perigo e ficar sentada esperando que outros decidissem seu destino não era do seu agrado.
Anya era uma boa alpinista a fachada rugosa de um castelo não a assustava. Abriu a janela com certa dificuldade, parecia estar fechada a dois séculos e meio pelo menos, e sentou no beiral com as pernas para fora planejando o caminho que seguiria parede abaixo. Descer não foi um grande problema. Havia apoio suficiente no encaixe entre as grandes pedras, mas o vento quase a derrubou uma boa meia dúzia de vezes, sem contar que a cada segundo seus movimentos ficavam mais limitados de tão enregelada se encontrava.
Quando o solo já se encontrava encantadoramente próximo ela notou as sombras escuras que rondavam o pátio abaixo. Talvez se elas a tivessem notada teriam sido obvias, mas eram como animais silenciosos e atordoados que caminhavam sem cessar de um lado para outro perdidos em um circulo vicioso que só fazia sentido para suas almas mortas.
Anya continuou sua descida com mais cuidado e tão logo tocou o chão se esgueirou para um canto coberto de hera. No seu canto escuro esperou seus olhos se ajustarem a escuridão e seus sentidos despertarem para a noite. Eram mulheres o que ela tomara por animais. Muito provavelmente as guerreiras que deveriam povoar este castelo, mas ela não as sentia conscientes de sua humanidade, continuavam a lhe enviar vibrações animais e ausência de sentimentos coerentes.
Agora, assim próxima à elas, podia ouvir rosnados baixos e se lembrou dos mutantes sempre presentes nos vilarejos afastados. Os seres disformes de mente ou corpo que ainda carregavam as escaras da guerra já esquecida por muitos. Mutantes. Todas elas. E parecia que agora a farejavam.
Os rosnados se tornaram uivos, as sombras sob os capuzes se transformaram em rostos lupinos e isentos de lucidez. Anya estava encurralada.
5 de mar. de 2008
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