11 de fev. de 2008

Depois da Escuridão (Parte 11)

Marissa esperou em silencio o que sua heroína diria. A vermelhidão de seu rosto se espalhava lentamente para seu pescoço e colo como se a vergonha a cobrisse.
“Você está muito decepcionada, Marissa? Isso muda muito a sua vida? Porque nunca ninguém esperou que fosse uma guerreira a não ser você mesma. Somente você não viu que seu coração é grande demais e sensível demais para essa vida. E não tenho vergonha de você, tenho orgulho pois nunca deixou que as historias dos horrores que vimos te desanimassem e nunca deixou que a endurecessem. Eu me orgulho de você e fui uma boba por nunca te dizer.”
Marissa a abraçou e chorou de alivio. Anya se deixou ser abraçada, não sabia bem lidar com estas demonstrações de afeto hoje em dia, e levou a jovem para um canto sossegado do refeitório.
“Desculpa Anya, sou mesmo uma molenga, mas quando soube que você estava aqui só podia pensar que ficaria decepcionada comigo.”
“Você sempre se importou demais com o que eu penso. Não devia. Eu é que devia me importar mais com o que pensa. De nós duas você é a que tem mais bom senso, eu só tenho músculos, cicatrizes e muita raiva acumulada.”
“Oh, não! Não fale assim. Me parte o coração ver que ainda está tão doída por dentro.”
Anya a olhou espantada. Todos a julgavam dura, sábia e infalível, mas Marissa, como sempre, parecia saber mais sobre ela do que qualquer outra pessoa, até mesmo mais do que sua madrinha.
“Vamos deixar pra lá meu estado, por mais catastrófico que seja. O que pretende fazer agora? Vai desistir do castelo?”
“Não, não! De jeito nenhum. Posso não ter o coração para ser uma guerreira, mas isso não quer dizer que eu não possa ser útil. Tenho estudado muito o uso das ervas e o básico de medicina, já me inscrevi para ser uma curandeira. Pra dizer a verdade acho que me empenhei muito mais nisso do que no manejo da espada. Acho que minha alma sabia melhor minha vocação do que eu, não acha?”
“Com certeza! Oh, Marissa, isso é maravilhoso, não imagina como é bom saber que um dia vou ter você ao meu lado ao fim de uma batalha e não uma guerreira me remendando de qualquer jeito. Temos pouquíssimas curandeiras e precisamos desesperadamente delas. Quando você estará pronta?”
“Bem, eu já estou, mas pedi para ficar um tempo ainda no castelo.”
Marissa ruborizou novamente e Anya percebeu que ela era a causa para a jovem desejar permanecer no castelo. E agradeceu por isso. Pela primeira vez sentia a necessidade de ter alguém que se importasse com ela, que a olhasse com olhos menos cautelosos e mais amorosos. Ser uma guerreira era carregar um escudo maior do que aquele usado para protegê-la, era ter uma enorme redoma que a separava das pessoas comuns. Era ser olhada com temor e reverencia. Era ser a esperança para muitos e a ameaça para poucos. De uma guerreira nunca era esperada nenhuma emoção que não fosse a ânsia pela batalha, nenhuma palavra que não o grito de vitória, nenhum gesto que não o adeus.
Anya nunca quisera outra vida, nascera para a espada e para fazer valer a lei. Agora, olhando para Marissa, percebia que havia mais da vida do que isso, ela somente ficara fora tempo demais, se negara por tempo demais do prazer de ser simplesmente humana. Era hora de lembrar que sorrir e amar era permitido, mesmo para aquelas que carregam a espada.

2 comentários:

J.F. de Souza disse...

Muito tempo sem ler-te, mulher... Perdoe-me a ausência...

Mas hei de acompanhar esse novo conto teu, ao menos... =)

=*

roseggata disse...

Ola Andreia! Li os 11 capítulos e adorei! me lembrou muito a série Dakover que infelizmente não consegui todos os livros
Sua mente e fantástica, e voce com certeza poderia publicar seus escritos com sucesso...
beijos da amiga...
(que bom que vc voltou com a corda toda!)