13 de fev. de 2008

Depois da Escuridão (Parte 13)

“Você quer mesmo que eu te conte a historia?”
“Claro que quero. Todas historias me interessam e a sua mais do que todas. Acho que você é a soma de suas dores, que te atingiram cedo demais, e de suas aventuras. Então me conte um pouco das aventuras.”
“Tá bom.”
Anya se sentou à sombra de um caramanchão coberto de hera e esperou Marissa terminar sua tarefa e se sentar ao seu lado.
“Lá vamos nós. Era uma vez...”
Era uma vez um castelo que parecia sempre coberto de bruma. Para se chegar a ele era preciso subir por uma estrada sinuosa e íngreme que acompanhava a montanha. Não estava no sopé da montanha, nem em seu topo, ele estava aninhado em uma plataforma natural e protegida à ¼ do topo. A estrada terminava em suas portas e para seguir caminho se deveria ser um exímio alpinista.
Anya alcançou a estrada no final do outono. Sabia que provavelmente ficaria presa nesse fim de mundo por pelo menos dois meses se não se apressasse. Não havia muito o que fazer por ali, de qualquer maneira, mas sua missão a levara para a região e este era o único castelo da irmandade por estes lados onde poderia descansar com segurança, curar seus ferimentos e encher seus alforjes para a longa viagem de volta. Nunca soubera de ninguém que estivera nele, mas constava dos registros como ativo e os registros nunca mentiam.
Olhando para o alto não era de se estranhar que recebesse poucos visitantes. O que deveria ser uma vista encantadora somente provocava um arrepio correndo pelas costas. A neve no topo da montanha parecia ameaçadora em vez de bela, a bruma que cercava o castelo mais misteriosa do que encantadora. Era como olhar para uma paisagem maravilhosa e saber que atrás de uma pedra num campo de flores havia algo de unhas afiadas e carne putrefata à sua espera.
Não havia vila próxima, como na maior parte dos castelos pertencentes à irmandade e a porta estava hermeticamente fechada, também contrariando os costumes. Só se fechavam portões e içavam-se pontes quando havia perigo a vista.
Anya puxou uma corda que tocava um sino mais pesado do que ela. O badalar em vez de ser musical pareceu pesaroso e mórbido. Um tempo longo demais se passou antes que o portão rangesse e uma fresta se abrisse.
“Sim?”
“Boa tarde, irmã. Procuro abrigo e provisões.”
“Sim?”
“Desculpe, mas este não é um castelo da irmandade?”
“Sim... Desculpe, irmã. Não estamos acostumados a visitantes. Entre por favor e me siga. Vou acompanha-la a seus aposentos. Poderá descansar e se refrescar antes do jantar.”
Anya agradeceu um tanto quanto constrangida. Os castelos eram sempre lugares festivos onde qualquer guerreira podia contar com uma boa acolhida, mas neste parecia que ela era apenas um estorvo. Para começar toda recém chegada era levada diretamente ao refeitório para que pudesse encher o estomago e matar a sede com o que estivesse à mão, afinal, muitas vezes, chegavam de viagens longas onde mal se alimentavam e mal podiam esperar para matar a fome. O ultimo pensamento era para um banho quente e perfumado e por fim uma cama macia e de cobertas quentes de onde somente saiam quando o corpo se recusava a permanecer deitado. Nem é preciso dizer que também era comum chegarem feridas e a primeira pergunta feita, mal adentravam um castelo era “está ferida, irmã?” o que a levaria direto à curandeira. Mas nenhuma dessas pequenas delicadezas foi desperdiçada com Anya. Ela deveria se contentar com banho e cama e deveria consolar seu estomago esfaimado com os restos de passas e nozes de seu alforje.
Os corredores eram demasiadamente escuros e todas janelas estavam fechadas no meio da tarde. O ar era pesado e cheirava a mofo e algo mais, algo enjoativo e nauseante.
Seu quarto era um aposento enorme e nada acolhedor. Lareira apagada, cama de lençóis cansados e até empoeirados. Nada parecia com seu castelo onde cada quarto estava apinhado de camas frescas com travesseiros recheados de ervas calmantes. Ela tentou, mesmo assim, agradecer, mas sua guia a deixara entregue à si mesma fechando a porta à sua saída sem uma palavra de adeus. Anya tentou segui-la para saber dos costumes do castelo, quando poderia comer e onde, mas foi impossível. A porta se encontrava trancada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá,

Passei para continuar lendo suas histórias e rever seu belo esp
Desejo uma lina quinta feira e muita paz.

Smack!

Edimar Suely
edi_suely.blig.ig.com.br