12 de fev. de 2008

Depois da Escuridão (Parte 12)

Marissa atualizava Anya das ultimas novas do castelo enquanto se serviam e comiam sentadas na extremidade de uma das grandes mesas. Onde existirem três ou mais pessoas existira fofoca e para falar a verdade era uma espécie de alivio para a tensão sempre presente na vida destas mulheres poder saber de quem finalmente tinha perdido a virgindade, quem aposentara a espada em troca de um casamento ou simplesmente pelo cansaço. Era bom saber das desavenças infantis de mulheres feitas que eram respeitadas nos quatro cantos do mundo, mas que brigavam por uma saia pega sem permissão ou um pedaço de chocolate.
Anya há muito tempo não ria tanto, Marissa tinha uma maneira inocente e ao mesmo tempo sarcástica de contar historias, era como ouvir uma criança contar uma piada indecente.
“E você nem imagina quem largou a espada por um homem. Cássia!”
“Como assim por um homem? Ela sempre gostou de garotas. Alias costumava se gabar de nunca ter visto um pênis em toda sua vida.”
“Pois é,” e Marissa riu com vontade “depois que viu nunca mais se cansou. Ah, Anya, a vida de uma guerreira pode ser difícil, mas não faltam risadas neste castelo.”
“Não são todos como o nosso. Alguns são tão sombrios que é quase impossível se dormir sem pesadelos.” E Anya estremeceu com a lembrança de um determinado castelo assombrado que parecia estar sempre envolto pela bruma.
“Jura? Você deve ter muitas historias. Será que terá tempo de me contar algumas?”
“Muitas, minha Marissa curiosa, mas agora é hora do trabalho. E eu talvez deva ajudar a lavar os pratos.”
“Não, eca! Nada de pratos. Venha comigo para o jardim plantar algumas ervas que chegaram hoje cedo e me conte a historia do castelo na bruma.”
O jardim do castelo era uma mistura de canteiro de flores, de ervas e pomar. Anya não caminhava por ali há muitos anos e o perfume quase a atordoou. Pêssegos pesavam nos galhos nodosos, flores brotavam por todos os cantos fazendo do lugar um grande frasco de perfume e as ervas pareciam curar o olhar antes de acharem os males do corpo. Era um lugar quase mágico e Marissa parecia mais feliz neste jardim do que em qualquer outro lugar. De joelhos na terra abrindo uma cama macia para as novas ervas, sorria e cantarolava melodias mais antigas que elas mesmas.
Anya sentiu vontade de tirar do peito um pouco dos fantasmas que a rondavam. E foi assim que começaram as historias, e foi assim que Marissa se tornou aquela que completaria o diário em que Anya nunca mais escreveria.
Algumas pessoas nasceram para fazer historia, outras para contá-la.

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