Anya não ficou realmente surpresa. Marissa era mais uma filha da terra do que do castelo. Desde cedo sempre se interessou mais pelas artes, pela colheita e pela administração do castelo do que pela espada. Claro que como toda menina nascida na face da terra seu sonho era se tornar uma guerreira, mas nem para todas isso se tornava uma realidade. Mesmo para as privilegiadas filhas de guerreiras, como Anya, que podiam desde cedo observar como uma guerreira realmente vivia, não havia a certeza de poder pertencer à irmandade.
Marissa era filha de uma guerreira, mas que somente tomara a espada depois da morte do marido. Havia se unido à guilda em busca de vingança e achara sua verdadeira vocação. Marili tivera os mesmos cabelos vermelhos da filha, mas seu gênio, diferente de Marissa, era explosivo e uma vez que seu sangue fervesse era difícil “esfria-la”. Mãe e filha haviam chegado a este mesmo castelo quase mortas, Marissa um roliço bebê de 9 meses, Marili uma jovem de somente 20. Helena, mãe de Anya se encarregou de treinar e controlar Marili e confiou à uma relutante Anya os cuidados da pequena Marissa, mas Anya sempre fugia do que chamava o “saco de cáca”, pois para ela crianças assim pequenas eram um grande empecilho.
Depois da morte de Helena, Anya se dedicou com afinco ao seu treinamento e Marissa era sua sombra, sempre com uma garrafa de água para lhe matar a sede, uma capa para lhe proteger do frio ou somente seus olhos carinhosos para lhe fazer companhia. A menina nunca pedia nada, somente queria estar próxima de Anya e esta permitia e com o tempo Marissa era a única a se aproximar da figura sempre solitária e concentrada que se tornou Anya.
Agora as duas estavam novamente frente a frente e sabiam que a sombra de suas mães pairava sobre elas. Marili sucumbira em uma batalha não muitos anos atrás e quando Anya soubera chorara sinceramente a morte de uma das mulheres mais valentes que conhecera. Ambas haviam lido um dia um poema que começava com as palavras: The art of losing is not hard to master. Que simplesmente quer dizer que todos podemos aprender a perder, talvez não fique mais fácil, nem menos doloroso, mas aprendemos que ainda estamos inteiros depois de cada queda e isso nos fortalece. Anya e Marissa se lembravam deste poema agora, a mais velha com sabedoria e tristeza, a mais nova com esperança de conseguir manter a cabeça erguida a cada nova decepção.
One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
---Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
Elizabeth Bishop
9 de fev. de 2008
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Um comentário:
Olá,
Passando para ler a continuação da história.
Desejo uma linda noite e muita paz.
Smack!
Edimar Suely
edi_suely.blig.ig.com.br
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