13 de fev. de 2007

Walking Home

Com a mão em concha ele segurava a pequena caixa sem tampa. Mas era uma mão muito pequena. A caixinha, com o carro amarelo dentro, balançava precariamente em sua palma e os dedos não ajudavam em nada, já que mal conseguiam se fechar. Seus olhos carregavam toda preocupação com seu tesouro, mas os olhos de seu pai eram impacientes. O homem não poderia estar mais desinteressado nos sentimentos da criança. O puxava pela mão livre fazendo com que o menino meio corresse, meio andasse enquanto a caixinha pulava como um sapo com soluços.

Ela era grandalhona, vestida para um dia na escola, cara redonda e macia como uma rosa cheia e molhada de orvalho. Fresca. Jovem. Bela. Aparentava ter 15 anos e provavelmente era essa mesma sua idade. Suas amigas, chamemos assim pois estavam na mesma roda, deviam ter a mesma idade, mas aparentavam de 20 a 30 anos, dependendo do ângulo que se olhasse. As roupas de todas eram variações do guarda roupa básico de uma prostituta bêbada e pouco era deixado para a imaginação. Nossa garota, a rosa, fez uma observação esperta sobre um assunto qualquer. Suas amiga não riram. Ela não fazia parte. Ela não era como elas. Ela falava coisas que não entendiam. Pena que a rosa não viu o garoto bonitinho que sorriu e a olhou com olhos mais que amigos. Adivinho que não pela primeira vez.

Ele olhava para cima encostado no muro do terreno vazio. O celular colado à orelha, os olhos súplices, a voz tremula e incrédula. Olhava para o edifício do outro lado da rua sem entender porque a sombra à janela se recusava a descer para vê-lo. O pôr do sol não esperaria pelo fim do ato. Já é quase noite e logo ele será uma sombra contra um muro qualquer, em uma rua qualquer. Esperando.

O cão esperava pacientemente que o homem se aproximasse. Era como a dança muito simples e repetitiva. O homem soltava a guia retrátil, deixando que o cão se afastasse. O cão, vendo os velhos pés lentos e incertos, parava e esperava até a guia se retrair inteiramente para então se afastar outra vez. O cão leva seu dono sempre em segurança de volta para casa. Aposto como isso acontece todos os dias.

Somente mais um dia voltando para casa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho tão engraçado esse jeito apressado dos pais arrastarem os filhos pelas mãos, vivo imitando essa cena com uma amiga minha, rsrs... Fico com dó das crianças, mas não deixo de achar engraçado.
Aiai... Vc também tem uma cabeça com asas!!! Abração!!!

Anônimo disse...

Lindo... Pequenos fragmentos do nosso cotidiano... Coisas boass, coisas ruins... Não importa exatamente, essa é a nossa vida e como ela passará para os próximos séculos...