2 de fev. de 2007
Message in a Bottle
Ele sempre treinava antes. Desenhava as letras com cuidado formando palavras doces e sentenças melancolicamente belas. Fazia isso todos os fins de semana. Sentava em sua varanda, na casa à beira mar, e escrevia cartas de amor, saudade e arrependimento. Num canto da varanda, engradados de garrafas esperavam pelas missivas preciosas que seriam seladas em seus interiores. A ultima parte de seu ritual era a que mais gostava. Saia de sua casa e, por um caminho íngreme, subia no alto de um penhasco próximo de onde podia ver o mar em toda sua beleza. Dali era comum ver o pôr do sol ou simplesmente contemplar as estrelas ao anoitecer ou ver como a lua criava estradas de prata no mar. Dali também lançava as garrafas ao mar. Sempre esperando pela maré certa que levaria a carta para um lugar distante, para mãos ansiosas, em um futuro incerto. Para muitos pode parecer um passatempo inútil e fútil, mas ele fora salvo por uma mensagem selada em uma garrafa que chegara aos seus pés quando resolvera entregar seu corpo ao mar. A carta borrada, de água e lagrimas, era um longo pedido de perdão. Uma canção de arrependimento, uma confissão de fraqueza que fazia qualquer pecado ser somente humano demais. Ele perdoou como se a remetente fosse aquela que lhe destruíra a vida. Descobriu, lentamente, que às vezes somente precisamos ouvir alguém confessar seu erro, ou professar seu amor, para seguir adiante. Que importa, para o coração desesperado, de que outro coração partiu a confissão? E assim ele escrevia cartas que seriam lidas nas horas mais solitárias. Porque mensagens lançadas ao mar sempre encontram os corações sofridos e sempre aplacam a dor dos que choram sem esperanças.
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4 comentários:
Olá, Andréa!
Definitivamente: SOU FÃ das tuas escritas! Muito bom....muito bom!
É incrível como você consegue descrever o cenário, como conduz nosso pensamento.
Fantástico!
Abração
Olá, mulher!
E não é a internet um mar onde encontramos essas mensagens belas?
Belo texto!
Já atualizei o link.
Um beijo
Andréa querida, voltando das férias e pondo as visitas em dia. O template do Pé na Cova está igualzinho ao do Inscrições, que acabei de abrir só para poemas (www.incries.blogspot.com)
A idéia das garrafas de náufrago é dessas paradigmáticas, que nao se esgotam nunca. Um beijo grande e até breve.
Andréa, neste final de semana eu achei que minhas esperanças haviam acabado. Mas, descobri que não. Descobri o que vale a pena levar de uma vida.
Abração, querida tia!
TOM
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