10 de fev. de 2007
Egyptian Eyes
Para onde olhasse o mundo era de areia e apesar de todo desconforto ela nunca fora tão feliz. Seu sonho se tornara realidade. Nem em um milhão de anos poderia sonhar que participaria de uma escavação no Egito, nem mesmo imaginava que ainda havia o que escavar, mas o dinheiro, recém herdado, comprara muito mais que conforto, comprara sonhos. A tumba principal, tão procurada, ainda não fora achada, mas só respirar de respirar o ar que corria sobre esta terra era excitação suficiente. Com a quantidade de dinheiro que doara para a escavação fazia o que bem entendia. Ajudava com o trabalho ou simplesmente andava pelo sitio arqueológico pensando no passado. Hoje decidira escrever suas cartas no sossego da parte ainda inexplorada do sitio. Era um lugar quase mágico e se fosse ela a responsável, teria começado ali a procura pela grande tumba. Encostada em uma parede semidestruída, esquecida das cartas, pensava se era a primeira a se sentar naquele ponto depois de séculos. Alguém já teria posto as mãos onde as suas estavam depois daquelas que construíram aquele lugar? Sentiu o chão tremer e depois ceder, não teve medo, pois houve tempo. Num minuto estava sob o sol já ardente, respirando o ar com cheiro de especiarias e no outro estava deitada num monte de areia e olhando para a escuridão dos séculos. A terra a engolira e se fechara, como mágica acima de sua cabeça. Passou a mão pelo corpo e não sentiu dor, só uma ânsia mais pelo medo do que pela queda abrupta. Acendeu seu isqueiro e olhou ao redor. Tudo que a luz tocava reluzia. A tinta das pinturas na parede, os objetos espalhados pelo enorme recinto e por fim reluzia todo o sarcófago no centro da sala. Com dor no coração despedaçou o que parecia uma banqueta e fez uma fogueira. Seu coração batia alto demais e ela teve que se forçar a fechar os olhos e respirar fundo por vários minutos antes continuar. Lembrou da maquina digital da qual nunca se separara desde que chegara e a tirou do bolso, milagrosamente intacta. Fotografou cada parede, cada centímetro em detalhes e por fim se aproximou da ultima morada daquela grande mulher. O rosto esculpido não era belo pelos padrões atuais, mas carregava mais caráter e sabedoria do que qualquer rosto conhecido. Aqueles olhos, em pedras preciosas azuis, pediam silencio. Pediam mais do que isso, pediam compreensão, ela compreendeu. Ouviu pela primeira vez o som da escavação não muito distante. Andou pelo enorme salão novamente, desta vez certa de ser a primeira a tocar cada objeto depois de séculos, fotografou uma segunda vez cada centímetro e por fim olhou dentro dos olhos azuis pela ultima vez. Sabia que o ser real, os restos da pessoa magnífica, estavam guardados ciumentamente dentro de pelo menos mais um sarcófago alem deste, mas sentia que ela a olhava e não a podia decepcionar. Sabia o que fazer. Despediu-se comovida do passado e andou por corredores claustrofóbicos em direção à atividade. Sabia por onde ir e o que fazer. Passou por uma porta secreta e logo estava no meio de escavadores que nem se deram conta que ela surgira do nada. Passou alguns dias em silencio, temendo perder a lembrança, mas era poderosa demais para desaparecer. Retirou seu apoio à escavação. Sabia que ninguém mais o faria, já haviam múmias demais em museus demais, e voltou para sua casa. O mundo nunca saberia das maravilhas que vira, mas certas maravilhas não querem ser encontradas, elas pertencem somente ao passado.
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3 comentários:
Exatamente!!! Eu estava conversando com um amigo espírita e ele me disse algo muito parecido com isso, sobre coisas boas que pertecem ao passado. O importate é que haja sempre resepeito e que busquemos sempre os momentos felizes, valorizando-os sempre. Abraaação apertado! Até breve!
o passado aos mortos pertencem, e os mortos desejam a paz, mas o homem com a sua ganancia invade tumulos para se apossar do que a ele não pertence...nem os despojos escapam...
belo Andreia! como sempre...
beijosss
Eu adoro o egito, ele é fascinante... E essa tumba é a da Cleópatra ou a Nefertiti????
rsrsrs Foi incrível... me senti tão emocionada quanto quando li o livro "Quando éramos Deuses" que conta a vida da Cleópatra...
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