18 de fev. de 2007

Tempestade

O dia não poderia ser mais ensolarado. Na verdade escaldante era a palavra que lhe vinha à mente. Apesar do sapato baixo, da roupa leve e dos cabelos presos, ela sentia-se derreter. Pensara que um passeio pela cidade quase deserta lhe faria bem, mas na verdade já estava mal humorada e não podia pensar, sem estremecer, em todo caminho de volta. A vontade de chorar era grande. Os prazeres simples eram obrigatórios, já que não tinha carro e nem dinheiro para as coisas que realmente gostaria de fazer, mas a cada vez que se obrigava à eles só que havia no final do arco-íris era frustração. Seus pés doíam, suas roupas pesavam, seus olhos turvavam e a cidade começava a parecer mais abandonada do que vazia. Sentou em um banco no ponto de ônibus mais próximo e ficou observando as nuvens de tempestade se aproximando. Ótimo. Poderia acrescentar “molhada” a todos seus outros desconfortos. Um senhor se aproximou com um carrinho de sorvete e a olhou sorrindo. Ele também parecia cansado. “ Dois sorvetes pelo preço de um?” Ela o olhou e, dando de ombros, aceitou. “Não tenha pressa, eu espero até você terminar o primeiro.” Ela escolheu um de limão, para refrescar, e não estava nem na metade dele quando as primeiras gotas começaram a cair. Ficaram, ela e o vendedor de sorvetes, observando a tempestade ganhar força. O vento parecia se animar, conforme o volume de água crescia, e girava e cortava tornando o abrigo do ponto de ônibus uma piada. Nem ela nem o velho se mexeram. Deixaram a chuva os atingir de onde viesse. O sorvete de limão terminou e dessa vez um de chocolate foi a escolha. Ele também se serviu de um e se sentou ao seu lado. Molhados eles viam os raios cortando o céu e os trovões estremecendo os edifícios da avenida. Era quase surreal. Tudo parou de fazer sentido e tudo ganhou um novo significado. Ela respirou fundo deixando toda tensão ser lavada pela água fria e furiosa. O velho somente a observava com um sorriso. O sorvete de chocolate chegou também ao fim e ela se ergueu e caminhou pela chuva sem pensar na distancia a percorrer, sem pensar no desconforto ou o perigo escondido nas poças que mais pareciam lagos. Ela simplesmente voltou para casa que a esperava fresca e nova sob a chuva de verão.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Andréa, vim conhecer o seu blog novo, depois de você ter despachado o blig. A verdade é que o blog antigo demorava uma eternidade pra carregar, talvez pelas limitações da minha internet "à lenha", mas era um atropelo. Este aqui foi tranqüilo, está bonito e com aquele diferencial que só você tem: o texto. Um beijão!

Anônimo disse...

Oh! Chuva de verão, será que poderia larvar também o meu coração?! Ah... Os prazeres simples de andar pelas ruas solitárias e sentir a brisa noturna beijar cada sentímetro de sua pele...!!!!!

Anônimo disse...

Oi querida, saudade de vc.. nem me visita mais:(
Mas mesmo assim continuo te amando, viu? hehehe
Bjs

Anônimo disse...

O dia de hoje, na ilhota de Santa Catarina, quarta feira de cinzas, foi descrito com perfeição.
Bom resto de semana querida.
Beijos Beijos

Anônimo disse...

Ah!!! Chuva de verão é bom demais. Temo a força dos ventos e a fúria dos raios. Mas aguento! Chuva para lavar a alma!!! Acabou o feriadão. Mas já sinto falta de tempo extra. Saudade! Beijão e até Breve...