9 de fev. de 2007

Manga Balboa

Manga não sabia de onde sua família viera, mas sabia que seu sotaque não era paulista, apesar de nascido em São Paulo, sabia que desde seu bisavô todos homens da família eram pedreiros, sabia que viviam como retirantes nordestinos apesar de estar há décadas instalados no vasto subúrbio de São Paulo, sabia que tinha poucas chances, e menos ambição ainda, de mudar de vida. Todos o chamavam de Manga desde que era menino, apesar de que no principio era por Manga Chupada que o chamavam. Nascera com uma incrível e incorrigível carapaça de cabelos escorridos e perpetuamente sujos, não importando quanto os lavasse, e a cor de cobre sujo e gasto não ajudava em nada. Manga aceitava seus defeitos, mas isso não impedia que sonhasse e foi sonhando que acabou mudando sua vida. De tanto assistir reprises de Rocky na TV, Manga decidiu que se seu cabelo não o ajudava pelo menos podia se exercitar e foi assim que começou com o boxe. Manga era bom. É verdade que seu cabelo distraia muito seus oponentes, mas tinha bom jogo de pés e uma esquerda poderosa. Construindo e treinando, essa era a vida de Manga até ser “descoberto”. Começou a lutar à sério e o dinheiro foi entrando como por milagre. Manga encorpou, comprou uma casinha decente em um bairro simpático, arrumou amigos que o chamavam pelo apelido sem o tom de chacota e até mesmo beijou algumas bocas mais de uma vez. Geralmente as mulheres fugiam depois de fazer contato com o cabelo diabólico, mas agora haviam incentivos e sempre haveriam mulheres dispostas a encarar qualquer coisa por um determinado preço. Manga cresceu, aprendeu a sorri mostrando os dentes novos que não combinavam com o cabelo velho, e enfrentou desafios cada vez maiores. Finalmente, como em um filme de baixo orçamento e roteiro previsível, Manga iria disputar o título de sua categoria. Não vou fazer mistério ou contar detalhes que nada importam, ninguém quer saber da gloria pré disputa, mas sim do desfecho final. Não há como ser delicada, Manga tomou o maior cacete. Ficou um mês no hospital e deixou quase todo o dinheiro ganho por lá. O que? Você acredita em finais felizes? OK. Manga voltou para a casinha no subúrbio, demorou um pouco para parar de sonhar, mas logo estava novamente entre tijolos e cimento e fez o melhor que podia com o pouco que tinha. Manga se transformou em um ótimo pedreiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Coitado do manga!
Eu acredito em finais felizes!!
:)