1 de ago. de 2009

Moon


Grito um “até amanhã” quando acelera rua acima e como sempre ele acena. Fico ao portão observando a noite que desce rápido sobre a cidade. A neblina é densa, como se fossem seis da manhã e não seis da tarde. Escuto os sons que parecem sempre ampliados magicamente nos fins de semana, a ausência do transito insano tornando minha pequena rua um salão de ecos que chegam a mim com perfeita clareza. E então ela surge por detrás da neblina, como num passe de mágica, como se estivesse ela a me espiar e não eu a encarar embevecida seu brilho alabastrado. De minha garganta sai a nota sem começo nem fim, o uivo que faz desaparecer a calçada em que piso, o portão ao qual me encosto. Sob meus pés sinto o frescor do relvado selvagem, pela minha pele passeia a brisa com cheiro verde e gosto de liberdade. Corro entre arvores que escondem o mundo, mas ainda posso ver a lua que parece mais próxima e intima do que nunca. Sinto a presença de outros que correm ao meu encontro, somos uma matilha agora, cortando a mata até chegar à campo aberto, subindo pela encosta pedregosa e finalmente chegando ao topo do penhasco onde ela nos aguarda. Seu brilho nos devolve nossa individualidade, mas estreita os laços que nos levaram até este momento. Nossos lamentos enchem a noite, são carregados pelo vento até mundos distantes, até onde nossos corpos permanecem congelados enfeitiçados pela lua que nos prende até que nossas gargantas estejam em carne viva, nossos corpos enregelados pela noite e nossa homenagem finda. E então o concreto está novamente sob meus pés e a grade do portão suporta meu peso. Abaixo os olhos me roubando da luz preciosa e entro em minha casa onde tudo é familiar e seguro. Subo as escadas procurando o silencio de meu quarto, levando uma garrafa de água para apagar o fogo que corre em minha garganta.
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2 comentários:

Celso Ramos disse...

Olá!!!
A muito tempo não comento texto de ninguém...esse me lembra Kafka..é por meio dos texto que agente pode experimentar ser um outro Ser...continuo no velho endereço e volto aos poucos a escrever...
abraços,
Celso Ramos.

Celso Ramos disse...

Voltei para te informar meu endereço definitivo...já te coloquei nos meus links. Dá um pulo lá.
Abraços.