9 de mai. de 2009

Anjos de Pedra

Sonhando acordada olho por cima do muro e vejo as lapides altas e os rostos pacíficos sugeridos na pedra ou mármore. Passo, agora, todos os dias em frente a este ultimo retiro e é meu sinal de que estou à dois minutos de meu trabalho, mas a cada dia me fascina mais esse vislumbre de mossa mortalidade. Posso quase sentir o sol aquecendo as lapides onde em dia dos mortos muitos se sentam descansando os pés ou aguardando que a memória, sempre falha, os lembre onde seus entes queridos descansam. Posso quase sentir o cheiro das flores esquecidas, murchas e secas à espera que alguém dê a elas o mesmo descanso que àqueles a quem homenagearam. Um portão me deixa entrever a capela pequena por onde andam pessoas com rostos tristes que certamente ainda não sabem como lidar com a perda daqueles que logo repousarão por trás dos muros por onde passo todos os dias. Há algo de incrivelmente relaxante nesse lugar. Talvez seja a inevitabilidade de sua existência. Talvez seja a paz que nada mais pode fazer a não ser reinar nessa terra para onde mortais não podem trazer suas intrigas. O que antes me parecia desolado e deprimente agora me parece encantador. Em meu estupor matinal quase sinto os anjos por sobre os túmulos lançando olhares sábios para nós, pobres mortais, que passamos por estes muros todos os dias.
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