18 de nov. de 2007

Ela fazia tudo sempre igual, como a tal da musica de Chico Buarque, mas parecia que não conseguia ser tão eficiente. No começo achou que seguir uma rotina levaria à perfeição, mas acabou somente a levando ao tédio. A vida inteira se esforçara para ser especial, mas parecia que era somente comum. Via pela TV um mundo maravilhoso e excitante do qual queria fazer parte e ao deitar, ao apagar da TV, chorava pelos sonhos impossíveis que tecia embalada pelas novelas. A cada dia ficava mais difícil aceitar que nunca seria famosa, nunca estaria na capa de uma revista, nunca haveriam fotógrafos a seguindo pela rua. Os Reality Shows tornavam tudo ainda mais difícil, muitos eram como ela, pessoas comuns que chegavam à fama como num passe de mágica. Porque não ela? Os dias passavam lentos, em sua simplicidade, lentos demais, anônimos demais. E então aconteceu. Num dia quente de verão ela voltava para casa correndo, apressada para a novela das oito que começava às nove, quando viu saindo de um hotel o seu mais querido astro. Ele estava vestido simplesmente e parecia apressado, mesmo assim ela o abordou insistente. Pediu um autografo e começou a murmurar palavras de adoração desconexas, mas ele tentou se afastar sem atende-la. Agarrou sua blusa e aumentou a intensidade dos pedidos o que o deixou mais nervoso. “Escute, me desculpe, mas meu filho está no hospital e tenho pressa. Fica para outro dia.” Ele sacudiu o braço se livrando de suas mãos súplices e correu para a beira da calçada em busca de um táxi. Ela ficou parada por somente um segundo e neste segundo sua boca se torceu em um esgar maldoso, seus olhos se apertaram com ódio pelo mundo que a recusava. Ela não se apressou, andou até ele de forma lenta e decidida. De sua bolsa tirou o sapato de salto alto que usava no trabalho e com uma determinação que lhe faltava para tudo na vida, o atacou. Muito longe podia ouvir gritos e só parou quando quatro policiais a jogaram no chão e a algemaram. Seu querido astro jazia em uma poça de sangue, morto pela loucura egoísta de uma fã. Seu filho o esperaria em vão em seu leito de hospital e sua mulher passaria a se deitar em uma cama grande demais para sua tristeza. Mas ela, ah ela... Conseguira o que tanto buscara. Por quase um mês estampou todas as capas de revista, foi a chamada principal dos sites de noticias e falou em microfones de todas redes de TV nacionais e até algumas internacionais. Decidiu escrever um livro sobre sua vida medíocre e viver eternamente como celebridade. Pena que um político resolveu transar com uma garota de programa durante uma noite em uma boate de sexo explicito onde vários celulares registraram a cena. Ela foi esquecida, mas não pela justiça. Ela agora faz tudo sempre igual, como aquela tal, é perigoso fazer diferente na cadeia.

4 comentários:

Ismael Alexandrino disse...

Continuas cronicando como ninguém, Andréa!

Adoro ler suas crônicas, sou fã.

Há tempos não te lia, estava com saudades.

Abração!

Anônimo disse...

É... Todo mundo um dia terá seus 15 min de fama, não importa como! Adorei!

Anônimo disse...

Estava com saudades do seu cantinho!

Penso em quantas mentes loucas existem nesse mundo, com esse tipo de visão.
Lembrei do Jonh Lenon.

Bjus! Bjus! Grandes bjus!

Anônimo disse...

Sempre achei que as novelas têm uma culpa muito grande no esvaziamento das famílias...