4 de nov. de 2007
Podia ler suas mentes com a mesma facilidade com que lia um livro. Para ele era natural, seu povo nascia com este sentido assim como nós, pobres mortais nascíamos com nossos cinco mal usados. Sentava nos telhados durante as madrugadas aprendendo o que movia os seres humanos comuns. Eram tão estranhos seus pensamentos, cheios de ódio, sexo e mentiras. Mesmo lendo tanta futilidade em suas mentes não podia deixar de se sentir fascinado por este povo auto-destrutivo e violento. É desnecessário contar toda sua historia agora, eu a tenho em paginas e paginas que um dia, quando o mundo puder entender uma criatura assim fascinante, espero publicar. Talvez a vejam como ficção e será melhor assim. Ele procurava por alguém, mas seu encontro com Cat estava marcado para futuro próximo. Não hoje. Hoje ele ouvia atento e tentava entender como um povo tão egoísta conseguia sobreviver. De seu lugar no alto do telhado de uma casa em uma rua tranqüila, ele esperava e ouvia e lia mentes que divagavam em pensamentos estúpidos. Ele tentava, muitas vezes, interferir nestes pensamentos, mandar mensagens positivas que aliviariam suas vidas, mas as pessoas resistiam. Pareciam gostar de se sentir miseráveis e transformavam boas noticias em más num piscar de olhos. Uma promoção se transformava num transtorno pelo trabalho a mais que traria. Um novo namoro gerava somente duvidas em vez de perspectivas. Uma gravidez se transformava em preocupação com o peso em vez de uma benção. Ele pensava que todos seres humanos simplesmente careciam bom senso. Já pensava em se recolher quando ouviu, em sua cabeça, um cantarolar suave e meio desafinado. “Não, não era assim. Como era mesmo?” e o cantarolar continuou agora mais firme “Ah, é isso.” Ele sorriu da felicidade que o pensamente da mulher, a simples satisfação de achar o tom certo de uma melodia. Ela subia a rua com um passo gingado que combinava com a musica em sua cabeça e parecia simplesmente alegre nessa hora perdida da noite. Carregava uma sacola pesada e seu rosto parecia cansado por um dia caprichosamente difícil. Ele sentiu, mesmo sem ver, a presença do outro que também a observava, mas não com a sua intenção benigna. O outro saiu das sombras e a atacou quando ela estava no ponto mais escuro da rua. Ele pulou do telhado em um movimento fluido e aterrizou sem que um som o revelasse. Com uma só mão agarrou o outro e o jogou do outro lado da rua onde ele permaneceu sem se mover. Ela o olhava sem medo, somente arfando pelo susto de momento antes. “Obrigada.” Ele acenou com a cabeça e sorriu sem dizer uma palavra. Ela retribuiu o sorriso e olhou para o outro agora fora de combate. “Você é algo assim como um super herói? Voando de telhados e nocauteando bandidos? Não... Você não falaria, mesmo se fosse. Obrigada assim mesmo.” Ela o olhou novamente, sorriu, recolheu suas coisas espalhadas e partiu cantarolando suavemente. Ela a seguiu até sua casa pelos telhados, enviando mensagens de segurança para ela e sentou até o amanhecer em frente à sua casa pensando que era isso que o fascinava nos seres humanos. Viviam em estado de alerta, suas vidas valiam menos que o papel onde seu dinheiro era impresso e mesmo assim... mesmo assim haviam os que ainda podiam cantarolar uma musica suave na escuridão da noite.
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