28 de jan. de 2007

A Cor do Sangue

Ele não lembrava bem de quando nascera sua obsessão, mas tinha quase certeza que fora na primeira vez que sangrara. Seu sangue, derramado pela ferida aberta em sua testa, resultado do tombo prosaico da bicicleta, escorria pelo seu rosto e pingava em sua roupa como tinta de um tubo. Azul. Sua mão sempre se esquivava de suas perguntas e somente dizia que ele era diferente, mas ele sabia que havia mais. Ficava atento e lia muito, procurando por sua origem, pois estava certo que não podia ser fruto de pais tão comuns. Um dia ouviu a expressão “sangue azul” e exultou, finalmente sabia a que classe pertencia. Não entendia ainda como chegara tão longe de qualquer pais regido por reis e rainhas, mas não importava. Com tempo e disposição acharia sua verdadeira família e ocuparia o trono que tinha certeza estar destinado a ele. Mais de vinte anos se passaram em buscas infrutíferas e pedidos de entrevista recusados pelos seus pares reais. Ele finalmente resolveu que deveria ser mais agressivo e partiu para um reino onde príncipes andavam entre seus súditos pelas ruas, ao alcance das mãos e intenções de qualquer um. Ele iria provar, definitivamente e para todos verem, que merecia um lugar entre os nobres restantes do mundo. Como fera ele rondou as ruas da cidade idílica, esperando pela oportunidade, sonhando com uma nova vida. Não demorou. O príncipe desavisado, nobre de alma e porte, desceu de seu carro com sua namorada plebéia em busca de um simples sorvete em um dia quente, mas o que encontrou foi o confronto mortal com a insanidade. Ouviu com terror o balbuciar descontrolado e viu a faca que cortava pulsos de onde o sangue azul corria. Viu com terror este insano se aproximar cada vez mais dizendo “somos iguais” e a faca se enterrando em seu peito nobre e ele morreu entre pés plebeus, encharcado em seu sangue real e vermelho como o de todos nós. O louco foi preso, sentenciado e trancafiado em um lugar onde não poderia mais fazer mal a ninguém, mas até hoje se ouvem seus gritos onde apregoa seu sangue azul, prova de sua linhagem real. Seus pais, em uma entrevista, pedem perdão por nunca terem feito o filho entender que seu sangue azul era na verdade fruto de uma doença rara. Ele era realmente diferente, mas não da maneira que imaginava.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ficou melhor aqui Dea. Espero que agora vc tenha acertado de vez !Sua nomade blogal !!! Beijão. Logo atualizo a pagina nos links lá ok.

Anônimo disse...

TOM
Mas que post tragicômico. Gostei, rsrs... Sacanagem do blig, desrespeito. Mas, tenho certeza que minha contista favorita está muito acima dessas incompetências alheias. Abração, Andréa!!!

Anônimo disse...

Hum... Aí está a prova do que a ignorância de certas coisas pode fazer com uma pessoa...

PS: Voltei... E com texto novo no meu blog...

EDIMAR SUELY disse...

Pensei ter perdido o contato de vez, mas descobri por acaso um comentário seu em um blog amigo e vim visitar novamente. Eu também tenho problemas sérios com a incompetente da IG e já tive meu blog apagado várias vezes, mas como nada entendo de computadores, pelo menos a IG é de fácil manuseio. Seu post está bastante interessante, nesta tragicomédia (rsrs). Meu blog completou 1 ano e 10.000 visitas e por isso está em festa. Venha comemorar comigo, deixe seus comentários e leve seus presentinhos para casa (grgr). Paz,

Edimar Suely
edi_suely.blig.ig.com.br