26 de jan. de 2007

Não havia trilha no campo florido. Eu abria bem minhas mãos e sentia nas palmas o toque suave do mato alto e das flores que ainda estavam sonolentas. O sol logo estaria forte demais, brilhante demais para se poder apreciar de perto tanta beleza. Eu havia esquecido o sabor da solidão, passara tempo demais procurando companhia, mas ali, no canto do mundo com cheiro de eucalipto, eu não precisava de ninguém. Podia passar o dia sem dizer uma palavra, somente rolando em minha cabeça palavras soltas. O pôr do sol chegava em um manto flamejante e da cadeira na varanda eu, ao lado de alguém que aprendera todas estas coisas antes de mim, ficava muda de espanto pelo espetáculo gratuito. Está é a hora em que posso acreditar em fadas, dragões e castelos construídos sobre nuvens. O sol queimando a linha do horizonte enche a terra de mistério e constrói cidadelas de ouro em cada monte, transforma o riacho em uma serpente de lava e as sombras em figuras de contos de fada. Eu lembro bem. É para lá que vou quando meu corpo reclama da rotina estafante, é para lá que me projeto quando não consigo mais pensar em tantos problemas. Fecho meus olhos e vejo o campo, as flores frescas, o riacho murmurante, o vento cantando por entre as folhas das arvores e até mesmo sinto o cheiro poderoso e calmante do eucalipto e o toque da brisa desarrumando meus cabelos. É para lá que vou para me encontrar novamente.

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