17 de set. de 2009

Crack crack...


A casa se ajeita para a noite. Como uma velha cansada se senta com cuidado em sua fundação, rangendo e tremendo até encontrar a posição certa para o descanso merecido. Tabuas estalam sob os pés dos fantasmas de nossos passos. Um suspiro. É noite. Nada mais de businas cansadas à porta, nada mais gritos pela rua, até mesmo os pássaros, ocupando recantos do telhado, escondem suas cabeças sob as asas e esquecem que existira amanhã. Dentro a luz é suave e própria, os cômodos estão frescos, talvez até um pouco frios, mas as mantas e cobertores cobrem aqueles que nela se abrigam. Não é uma má casa, nem mesmo uma triste casa. É somente uma casa cansada pelo tempo e pelas crises que presenciou. Me bate uma gratidão repentina pela construção agora cheia de problemas, que num mês de primavera, tantos anos atrás, deu abrigo para meu corpo cansado, minha mente febril e meus medos justificados. Me ajeito em seu útero pensando que sim, sou grata pelo teto que está rachado e pelas tabuas que rangem noite adentro. Velha e cansada. E segura. Ainda.
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Um comentário:

Ana disse...

Olá, minha querida! Há que tempos não venho aqui!

Você continua escrevendo bem, como sempre... Deu para sentir a personalidade de sua velha casa. Realmente elas desenvolvem uma, co o passar dos anos.

Estou tentando voltar a postar na Estante Mágica com regularidade e revisitar amigos. Hoje fui ter a grata surpresa de ver que o Literatura Clandestina tem novo blog e vai lançar nova coletânea. Você está entre os poetas, e te desejo o maior sucesso, assim como a todos os demais!

Beijos, se der me visita!

Ana