30 de nov. de 2008

A Primeira


O pulso irradia uma dor imensa para todo o braço. O sinusite faz o nariz parecer cheio de algodão, a garganta dói assim como o ouvido esquerdo e nem falo da cólica porque passe a noite a ignorando porque o resto já é por demais desconfortável. Levanto no sábado sonhando com um dia de sofá e comida que desça sem esforço e então me lembro que algo importante vai acontecer nessa tarde. Lembro de minha querida amiga Vivian dizendo “Não vá esperando demais, são somente crianças.” Mas eu espero. O banho me devolve um pouco da cor e me deixa disposta para enfrentar as próximas horas. Me arrumo como posso e pego a chave do carro das mãos de mano Urso com um suspiro cansado. O transito é infernal, me faz odiar essa insanidade natalina, e demoro quase uma hora para chegar ao colégio onde se apresentará a peça. No auditório as famílias se reúnem e todos conversam entre si. Sento-me na terceira fila sozinha. Ninguém me conhecem alem de Vivian que está por trás provavelmente dando o ultimo retoque nas crianças. A coordenadora por fim aparece, acompanhada por minha amiga, e ambas falam algumas palavras. Vivian me embaraça quase até as lagrimas quando me apresenta e todos se viram para me olhar a aplaudem. Sorrio sem jeito sabendo que estou roxa e quando mais roxa me penso, mais roxa fico. Por fim a peça começa e eu rio mesmo sabendo cada palavra, já que eu que as escrevi. Rio do riso dos outros e rio de prazer. Tudo acaba rápido e mal abraço Vivian já fujo, será que todo autor tem medo de ouvir o que dizem de sua obra? Mas o riso me disse o que eu precisava saber, riso de adultos levados à ele por atores mirins e minhas palavras. O transito já não me incomoda, meu pulso machucado é ignorado assim como a cólica e a rinite. Sorrio até chegar em casa e devo confessar que ainda estou sorrindo.

Meu primeiro beijo me deixou tremula e extasiada. Meu primeiro emprego me fez ver um futuro até então inimaginável. Meu primeiro carro me deu liberdade. Meu primeiro conto me fez, felizmente, insana. Minha primeira peça, encenada por vozes inocentes e doces, me fez ver uma luz no fim de um túnel longo demais.
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Um comentário:

Unknown disse...

Poxa, que saudade de ler seus textos. Fantástico esse último parágrafo.