16 de jun. de 2008

Regras

Ele sempre vivera segundo regras. Primeiro foram seus pais que diziam que tudo dependia dele se comportar segundo o esperado. Depois viera a escola com suas regras e códigos de conduta que só ele se importava em seguir, afinal era o que se esperava dele. À anos e anos de estudo seguiram-se anos e anos de trabalho onde ser político foi mais importante que ser eficiente, mais isso é o que todos esperam de todos, certo? Sua vida era perfeita, todos invejavam seus ternos de bom caimento, suas namoradas perfeitamente platinadas, seu cargo de titulo pomposo e seu apartamento luxuosamente decorado, mas ninguém o conhecia realmente. Por trás de todas regras estocadas nas estantes de sua memória, de sua personalidade programada para nossos dias, existia um coração jovem e apaixonado à procura de uma saída para sua existência robótica. Seu trabalho o levava aos lugares mais remotos e belos do mundo, mas sempre olhava para tantas maravilhas como uma criança com o rosto colado à vitrine de uma loja de doces e sem um centavo no bolso. Nunca se deu ao prazer de subir ao alto da Torre Eifell ou de caminhar pela muralha da China ou andar pela Praça Vermelho ou mesmo de sentar em um café e sonhar em Casablanca. Sempre concentrado em seu dever e nunca se dando o prazer de ser simplesmente mortal. Seu caminho era sempre em frente e seu coração sempre pesado até que um dia, ao passar por um campo de flores selvagens que viviam sem regras e sem cuidados, sentiu todas amarras se partindo como se as pequenas flores entoassem cânticos mágicos que abriram todas malditas comportas que encarceravam seus sentimentos. A penúltima pessoa que o viu conta que corria nu pelo campo rindo como uma criança, sem medo e sem vergonha, simplesmente livre. A ultima pessoa que o viu conta que vive em uma felicidade serena em uma cabana de conto de fadas na beira de uma floresta e que ri com freqüência, conversa com todos que encontra, ama profundamente as mulheres que lhe cruzam o caminho, aprecia imensamente cada pequena maravilha que encontra e não segue absolutamente nenhuma regra.

Um comentário:

Clecia disse...

Que belo texto e que imagem perfeita! Amei! Queria me sentir livre assim: em um campo de flores. Vivendo em uma cabana no campo! Perfeito! :) Um abraço!