29 de jan. de 2008
Depois da Escuridão (Parte 3)
As colônias se formaram naturalmente. Saídos das profundezas os grupos se mantiveram juntos no primeiro momento. A terra era um lugar estranhamente alienígena e por alguns anos ninguém se arriscou a montar acampamento longe da entrada dos túneis. Nem todos tiveram sorte nestes primeiros anos. Alguns saíram da escuridão para se deparar com desertos onde a água era escassa demais ou em terrenos absolutamente estéreis. Estes desafortunados foram os primeiros a se aventurar à procura de um lugar mais promissor e também os primeiros a ter a confirmação que sobreviventes agora começavam a repovoar a terra. Os primeiros encontros foram cheios de apreensão por ambos os lados, mas misturados com um alivio que logo colocou sorrisos em bocas e estendeu mãos em cumprimentos quase esquecidos.
No começo os abrigos eram sempre provisórios. Todos tinham medo de enterrar raízes que logo poderiam ser arrancadas, mas a ameaça parecia adormecida para sempre e logo vilas foram erguidas em torno de castelos medievais. De certo modo minha irmandade teve muito a ver com a escolha deste estilo de vida. Pelo que se conta, e lá se vão bem uns cinco séculos desde este reinicio, cada comunidade nascida embaixo da terra foi liderada pelas mães e posteriormente por suas descendentes mulheres. Elas cuidaram para que nada da historia se perdesse, foram as guardiãs dos livros reunidos com tanto cuidado, foram as arbitras de tantas disputas e foram elas que propuseram que se tentasse um modo de vida medieval que funcionaria perfeitamente nessa nova terra mais ampla e isenta de tecnologia. Estas mulheres foram responsáveis pela criação da irmandade que hoje governa o mundo. A minha irmandade. Contam ainda que as primeiras guerreiras saíram pelo mundo em busca de novas comunidades para dividir experiências e conhecimento. Dizem que assim tudo começou. A lei veio pouco mais tarde.
Quando a prosperidade e normalidade chegou às vidas dos sobreviventes e seus descendentes, também chegaram aqueles que não queriam gastar o suor do rosto com seu sustento. Nem bem os castelos e suas vilas foram erguidos e logo assaltos e assassinatos começaram a pipocar em uma mensagem clara. O bem sobrevive a tudo, mas o mal também. Antes que houvesse tempo para tais tipos se sentirem confortáveis a irmandade criou a lei. Viver e deixar viver. Dizem que para meio entendedor meia palavra basta, mas existem sempre aqueles que cem palavras não vão convencer. Para estes a irmandade reserva a espada. Ladrões, assassinos, usurpadores, charlatões e delinqüentes não tem espaço no mundo, ou morrem por nossa espada ou se contentam em viver bem longe de nossos olhos.
Cada castelo nesse mundo é nossa casa. Cada aldeia em volta dele é nossa responsabilidade. Não ganhamos nada alem de cama para dormir, comida para alimentar e algodão e couro para nossas roupas. Não somos ricas, temos tudo que é preciso. Não somos donas de nossa vontade, andamos o mundo protegendo os inocentes. Somos filhas de nossas mães e somente isso importa. Temos um destino a cumprir, não é raro nos rebelarmos contra ele, mas nunca lhe damos às costas. Somos guerreiras afinal.
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