É um pouco difícil contar historias quando o começo parece tão distante, mas posso dizer que tudo começou pelo fim. O mundo entrou em colapso. Guerras pipocaram como chagas, povos bem intencionados se meteram em paises aonde nunca deveriam ter pisado, terroristas usaram qualquer desculpa à mão para justificar sua sede de sangue, tolos tomaram lados sem pesar as conseqüências, ignorantes jogaram pedras sem pensar em seus telhados de vidro, bombas demais foram carregadas em aviões muito mais velozes que a luz. Bombas demais. E todas elas encontraram seu destino.
É preciso explicar que ao mesmo tempo que o mundo desmoronava e os jovens morriam combatendo sem ter a mínima idéia de por que lutavam, as mães de todo mundo se uniram. Elas já não suportavam perder seus filhos, filhas, maridos, irmãos para a megalomania dos poderosos. Tudo que importava para estes era o dinheiro, o petróleo, a maquina da guerra enchendo os cofres, o poder. As mães então encheram as ruas, se transformaram em guerreiras usando seus utensílios de cozinha para por fim àqueles que nunca se importaram realmente com o caminho da humanidade. Foi por muito pouco que não tiveram sucesso. Em seis meses já quase não existiam políticos e ninguém levantava a voz para ocupar o lugar daqueles que pereciam merecidamente pelas mãos de mulheres finalmente livres da sensibilidade que as impedia de matar de maneira fria e impiedosa. As forças armadas caiam como castelos de carta. Seus generais, almirantes e brigadeiros sumiam no meio da noite e covas rasas surgiam dentro e fora de instalações militares. Ninguém questionava. Não eram somente as mães que estavam fartas de homens covardes ditarem o destino de suas famílias. Cada ditador do mundo, cada terrorista covarde, cada fanático foi caçado e exterminado com a mesma piedade que demonstraram pelo mundo em que viveram. As mães começaram tudo, mas não foram elas que acabaram.
Os últimos homens sentados em assentos presidências, por trás de seguranças trêmulos de medo e portões fortificados prestes a desmoronar, apertaram seus botões vermelhos. Mísseis cruzaram o mundo em todas direções e o começo do fim chegou em uma nuvem radioativa que cobriu o sol por mais de 100 anos.
Eu sou filha daqueles que sobreviveram. Sou descendente de uma das mães que mudaram o mundo. Sou uma guerreira e o que faço é manter o novo mundo livre dos tipos que nos levaram à quase destruição completa. Sou fruto daqueles que conseguiram viver na escuridão, que quase enlouqueceram pela falta de ar livre, de arvores com frutos, de grama sob os pés, de chuva fresca no rosto, de amanhecer e anoitecer, de liberdade. Eles viveram em túneis cavados na terra por tempo demais, mas as mães nunca desistiram, nunca os deixaram esquecer que a esperança estava no futuro e que era preciso que houvessem descendentes para que a terra pudesse ser povoada algum dia. No futuro. E com o tempo a insanidade foi vencida, a escuridão se coloriu aos poucos e o amor uniu aqueles que acreditavam nas palavras sabias de mães que já não tinham filhos.
Eu sou o futuro e vou lhes contar as historias que precisam ouvir.
26 de jan. de 2008
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