29 de out. de 2009

Lembro


Eu lembro claramente daquele dia. O céu nada tinha de animador, era todo de um cinza triste e choroso. A chuva caia constante e fina, uma chuva melancólica e determinada. Eu costumava passar todos finais de semana no interior, os dias eram cheios de visitas a fazendas, caminhadas pelo campo, passeios à cavalo, comer jabuticaba no pé ou simplesmente tomar sol na cachoeira. Mas não esse dia. Todos pareciam ter se sumido com o sol e a cidade minúscula parecia completamente deserta. Ninguém para ver ou conversar, as estradas de terra úmidas demais para meus passeios, as cachoeiras perigosas demais mesmo para a contemplação. Lembro exatamente de como me senti naquele dia. Uma paz infinita enquanto olhava para o mundo da janela do meu quarto. Era como estar numa bolha onde nada poderia me atingir, nada poderia mudar aquela sensação de plenitude. Na solidão daquele dia, tão estranha para mim que vivia rodeada de pessoas, me vi serena e emocionada com a paisagem ao meu redor. Montes verdes brilhando como esmeraldas, pássaros gritando por abrigo, água batendo na grama e trazendo o cheiro da terra. Passei horas naquela janela, até a noite me privar de sentir o dia triste me fazendo tão feliz. E hoje me lembro tão bem daquele dia, a paisagem da minha atual janela não é de longe tão bela e bucólica, mas o céu tem o mesmo tom e a chuva mansa canta a mesma musica e meu coração está em paz.

3 comentários:

Heidi Costa disse...

Eu conheço esse sentimento de sentir paz por causa de uma paisagem ou da quietude de um dia. É dificil com a vida agitada que a gente leva, mas de vez em quando recebemos um momento desses como se fosse um presente.
Gostei desse post, me fez lembrar do meu dia de paz...

RICARDO MANN disse...

Lembranças como essas vêm até acompanhadas de cheiros, toques e outras sensações da ocasião. O cérebro da gente tem dessas coisas.

Me mudei para o blogspot. Passe lá.
http://brincadeiradavida.blogspot.com
Mil beijos!

Anônimo disse...

Senhora das palavras,

Como há vida nessa tua recordação! Como sempre, aliás.