7 de jul. de 2008

O dia que assassinaram Hamlet

Não. Não o assassinato esperado. Não o final sangrento e cataclísmico de sempre de Shakespeare. Não. Se assim fosse eu não teria ficado com gosto de figo estragado com patê de ameba na boca.
Se fosse por minha vontade cortaria todo o primeiro ato para os 5 minutos em que Wagner Moura não ficou pulando pelo palco como um ornitorrinco bêbado. Nestes minutos ele esteve bem, dramático e cômico sem apelação, mas foram somente 5 minutos das quase duas horas do primeiro ato.
Shakespeare pode ser atualizado, simplificado, adaptado, mas se você quiser se manter fiel ao texto não tente transformar suas belas palavras em gritos exagerados e loucura desvairada. Em certos momentos o discurso insano de Hamlet é até incompreensível pois Wagner Moura grita tanto que seu sotaque baiano ganha e só o que se pode imaginar é que definitivamente este Hamlet não bate bem da bola.
Rainha Gertrudes é carioca, com certeza, Ss e Rs tão carregados que quando se diz no reino da Dinamarca dá para rir como se fosse piada. Rei Claudius pensa estar em novela cômica da globo e em vez de insidioso parece patético, em vez de maquiavélico parece ridículo, em vez de rei parece chefe do jogo do bicho. Seus gritos, como os de Hamlet, em vez de mostrarem ira ou medo somente evidenciam descontrole e mais, evidenciam o fato de que o ator perde suas falas a todo o momento, cuspindo entre os gritos até achar a palavra certa.
Horacio se dá bem, contido, amigo e confidente, sobressai em meio à confusão não vulgarizando um personagem amado por todos.
Ofélia é bela, doce e sempre no tom certo, sei que já vi esta menina em algum lugar e espero que ela tenha mais sorte numa outra peça, pois sua presença é reconfortante dentre o caos generalizado.
Polônios pensa estar no Show dos trapalhões. O personagem que deveria ser bajulador, cheio de si e de sua importância se torna, nesta leitura, somente um falastrão ridículo que quer por força arrancar risadas mesmo quando o drama corre solto.
Hamlet é um drama, com momentos de extrema comicidade, mas este que vi é somente um pastelão inspirado em um clássico.
Saí ao fim do primeiro ato sem um segundo de hesitação. Para mim Hamlet foi assassinado bem antes do tempo.
Quem teve o bom senso de ler a peça ou de assistir o filme de Kenneth Branagh sabe que Hamlet é dor e rancor, mesclado com o riso do disfarce forçado e finalizado com lagrimas sinceras pela queda de um reino onde a honra ficou esquecida num passado longínquo.
The rest is silence.

Domingo, 06/07/2008, Teatro FAAP, 18h00 (deselegantemente começou às 18h20.

2 comentários:

Clecia disse...

Ai! Não me diga que estragaram Hamlet! Ninguém merece, né? É triste e desolador quando uma adaptação não é bem feita. E olha que Wagner Moura é um ótimo ator! Bjos!

Anônimo disse...
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