27 de set. de 2007

As noções básicas de cortesia estão perdidas para sempre. Se sairmos dos canais “oficiais” ninguém mais sabe como se comportar ao receber um convite. Vamos a uma aulinha básica. Se receber um convite com as letrinhas mágicas RSPV, saiba que quer dizer Répondez s'il vous plaît, cuja tradução literal é “não seja um asno, responda confirmando sua presença”. RSVP é usado em ocasiões onde o numero de pessoas presentes impacta o planejamento geral do evento. Seja um jantar, coquetel, casamento, batizado ou mesmo um almoço, o organizador se baseará no numero de presentes CONFIRMADOS para preparar os comes e bebes que todos adoram quando são gratuitos. Pensar que sua resposta não fará diferença é a mais alta falta de cortesia que poderá demonstrar para o coitado que teve o desprazer de te convidar. Assim como você, outros tantos pensarão “decido na hora, não fará diferença” ou “confirmo e se não tiver vontade acabo não indo”. BIG NO! Se você for à um jantar e faltar comida ou bebida, certamente sua língua trabalhará a semana toda metendo o pau no anfitrião. E no caso de sobrar, para você não fará diferença, mas quem paga a conta nunca mais o convidará quando souber que o “babaca” resolveu não aparecer. Responder à um certo tipo de convite é simples questão de educação. Não seja um asno.

25 de set. de 2007


O que você realmente confessaria se não tivesse medo de ser escutado por uma mosquinha fofoqueira? Temos, cada um de nós, noções de moral elásticas que se ajustam à nossas necessidades e desejos. Muita vezes, muitas mesmo, condenamos atos que esquecemos achar natural vindo de nós mesmos. Somos sempre melhores, certo? Podemos mais e temos mais discernimento, certo? Mas, agora sinceramente, deixando de lado toda nossa suprema arrogância, me conte, aqui bem ao pé do ouvido ou, se sua consciência pesada o perturba, por trás desta cortina pesada que esconde seu rubor do meu. O que realmente você gostaria de me dizer sabendo que seu nome me é estranho e suas feições desconhecidas? Sussurre em meu ouvido e eu te contarei um segredo.

23 de set. de 2007

Gosto de imaginar que existe algo depois da morte. Depois do ultimo suspiro, do murchar dos pulmões inúteis, do ultimo bombar do coração corroído, doído, pelo tempo. Depois que o corpo encontrar o repouso num ultimo estirar de membros onde o ultimo sinal de que ali uma vida existiu é o crescer incontrolável das unhas e cabelos que ignoram a morte por mais algum tempo.
Depois...
Gosto de imaginar que existe algo depois do túnel de luz branca onde anjos cantam o caminho. Depois das portas, abertas de par em par, da entrada do paraíso (ou o que quer que haja depois para os bons). Depois do reencontro com os entes queridos e os animais de estimação que esperaram pacientemente pela sua chegada.
Depois...
Gosto de imaginar que depois de tudo isso é nos dado a sabedoria de enxergar o que fomos humanos demais para perceber. O sentido das coisas. O motivo oculto. As escolhas que nos foram roubadas. O minuto supremo onde tudo nos é revelado e podemos sorrir de nossas dores terrenas e entender, por fim, que tudo teve sentido.
Depois.
Somente depois.

20 de set. de 2007

Geroge, Oh George!

Não gosto desse calor. Me desconcentra. Fico pensando em uma praia deserta, eu de vestido diáfano e curvas voluptuosas e George Clooney de sunga. Ta bom, sem sunga. Como pensar em qualquer coisa quando Georginho fica passeando na frente da minha subconsciência com as belezas de fora e um copo de Martini na mão? Tenho um milhão de coisas para fazer todos os dias desde que mudei de emprego. Eu mudei de emprego, by the way. Falo com pessoas interessantíssimas, tenho uma chefe maravilhosa e que parece ligada em duas tomadas de 220 o tempo todo, não tenho tempo para pensar em problemas ou contas que se empilham, o que é uma tremenda vantagem quando contas sempre se empilham em sua vida. Mas o que isso importa quando este calor infernal traz George, oh George, com seu copo de Martini e seu rosto másculo sempre na periferia de minha atenção? Não gosto de me entregar fácil às minhas fantasias e resisto bravamente ao copo de Martini estendido em minha direção e ao biquinho beijoqueiro de meu amante imaginário. O trabalho não pode esperar, tudo é urgente e George, como todo bom amante imaginário, compreende e se deita na rede à minha espera. São quase dez horas da noite e posso agora, sorrindo de antecipação, correr para a rede e.... Poor George... A espera foi longa demais. Ou talvez foram os tantos Martinis mexidos, e não batidos, que tomou na sua longa espera. O fato é que meu querido amante dorme e eu, com um suspiro, sento-me aqui, atrás do meu novo laptop (vocês leram “meu novo laptop”?) e penso em George em seu sono comatoso. What the hell, vou eu também tomar um Martini. Espere-me, Mister G!

18 de set. de 2007

Todos tem suas, como é mesmo que dizem, necessidades. Ele tinha a sua. Era como uma compulsão. Lutara a vida toda contra ela, tentara de tudo, remédios, curandeiros, terapia de grupo, hipnose, macumba. Nada resolvera. Depois de anos de frustração e desejo contido acabara por se entregar. Cada um deve enfrentar seu eu interior no espelho e aceita-lo ou viver em uma bolha para sempre. Ele se aceitara. Não que sua necessidade não lhe rendesse sustos. Por tantas vezes escapara por um triz de ser pego que, de tempos em tempos, trancafiava sua compulsão e se comportava como um ser humano normal. Naquela noite, depois de tantas de abstinência, ele saiu pelas ruas sabendo o que faria. Ficou vagando pelo bairro quase adormecido procurando o que precisava para aliviar sua necessidade estúpida e insana. Logo achou e tratou de aliviar a necessidade maligna que o preenchia sempre que perambulava pelas calçadas cheias de gente. Ele não notou que ela se aproximava e nem ela o notou na escuridão da noite. Eram ambos o pesadelo um do outro. Ele o de ser pego com a mão na massa, ela de se encontrar frente a frente com um estranho quando a cidade parecia ter se esvaziado de repente. Ela descia a rua em passos apressados e silenciosos, cortesia de seus tênis que não dispensava para as idas e voltas do trabalho. Ele estava imerso demais no prazer de seu segredo para ouvi-la. Até ser tarde demais. Não há como descrever o que sentiram as duas pobres criaturas presas nas malhas do destino. Ela ficou congelada, presa em seu ultimo passo sem saber se correr ou... Ele, pobre coitado, pego em fragrante delito, pênis na mão, urina correndo solta enquanto um sorriso feliz lhe mudava a face, perdeu todo desejo, para sempre, de escrever em muros com jatos de xixi. Seu prazer secreto descoberto lhe tirava um pedaço da alma e ele chorou de vergonha e frustração. Ela se condoeu de um tão belo espécime masculino pego em tão infantil atividade. O consolou como pode e o constrangimento de ambos se transformou em elo e ele a acompanhou a sua casa. E no dia seguinte também. E no outro. Estão casados agora. Ele já não sente aquela necessidade, só muito raramente, mas então ela o acompanha para ele praticar um pouco de seu xixi caligráfico. E eles viveram felizes para sempre. The end em xixi caligráfico.

16 de set. de 2007

Ele olhava para trás com os olhos tristes e desconfiados de quem já passara por mais do que merecia na vida. Eram olhos cansados, mas no fundo deles um brilho dourado anunciava que, against all odds, ainda havia um resquício de esperança em seu pequeno corpo. Sua perna, aquela que fora quebrada duas vezes, doía demais nesses dias que amanheciam tórridos e terminavam gelados. Seu corpo exigia uma tremenda força de vontade para continuar a se mover, mas ele tinha medo e continuar em movimento parecia a única saída. A voz que o chamava era convidativa, mas não o foram todas as outras? O corte em sua testa ainda sangrava, mesmo depois de 3 dias, e ele chacoalhava a cabeça sem parar para que o sangue não cegasse. Ele estava cansado. Não somente seu corpo parecia querer desistir, mas também seu espírito estava se encaminhando para aquele ponto onde o fim da dor, do desconforto, do medo eram um atrativo maior do que o continuar a viver. E a voz continuava a chamá-lo. Ele não podia andar mais rápido e parecia que quem o perseguia estava cada vez mais próximo. E de repente ele não se importou mais. Isso acontece frequentemente com quem foi maltratado, abusado e jogado pela vida como um pedaço de carne podre. Era hora de parar de fugir. De enfrentar o destino com paz no coração e a esperança que o fim fosse rápido e tão indolor quanto possível. E a voz o alcançou. “Vem cá, garoto. Que foi que fizeram com você?” Mãos doces e cuidadosas o pegaram no colo e o tecido macio do suéter do homem de voz calma o esquentou e o induziu a um estado de torpor que ele pensou ser o prenuncio da morte. Por algum tempo ele sentiu o balanço do andar e o ar da noite pareceu doce. O homem continuava a falar, mas ele já não ouvia as palavras, somente notava a cadencia apaziguadora. Logo parou de sentir a brisa e parecia que estavam dentro de uma casa. Apesar de sentir um começo de curiosidade não conseguiu abrir os olhos. Sentiu seu corpo mergulhar em água morna e perfumada e, depois de ser esfregado com delicadeza, teve seus machucados tratados e sua perna ruim enfaixada. A cama macia veio a seguir, e se isso era o céu, então o paraíso tinha cobertores fofos e coloridos. Ele dormiu. Abriu os olhos para um aposento claro e um som maravilhoso encheu seus ouvidos. Ele sabia que era musica, a ouvia quando olhava para dentro das casas esperançoso. Fechou os olhos novamente pensando que era o melhor sonho que tivera quando ouviu a voz do homem chamando. “Acorda, garoto, você precisa comer.” Foi carregado novamente e o homem até mesmo o ajudou a fazer suas necessidades antes de apresentar uma vasilha cheia de leite com umas coisinhas crocantes e doces que fizeram sua boca arder de desejo. “Comprei umas coisas pra você enquanto tava dormindo, amigão. Que você acha de morar aqui comigo?” O homem começou a lhe mostrar coisas lindas e que ele já vira outros usarem, mas que nunca imaginava que alguém quereria lhe dar. Sentiu algo novo e uma vontade irresistível encheu seu corpo judiado. Pulou nos braços do homem e lambeu seu rosto enquanto abanava o rabo meio torto que Deus lhe dera. O homem riu e o abraçou e foi como sempre imaginara. Isso era o paraíso sim, mas ele estava vivo e achara um humano que tinha um lugar no coração para um cão dedicado como ele. Au au. Isso era o paraíso sim.