3 de mar. de 2007

Retorno

Chamemos de férias, mas não posso dizer que me sinto descansada. O verão, que devia trazer pensamentos luxuriantes, só me cansa e aborrece. Pode me chamar de ranzinza, mas se você não mora na beira do oceano ou ao lado de uma cascata de águas frescas, não há do que se alegrar. Todos meus sentidos se ressentem deste calor infernal. Comecemos pelo tato. Não é possível acariciar pele que não esteja úmida, e não do orvalho da madrugada ou da garoa do outono, mas do suor nada agradável provocado pela estufa em que vivemos. Não se pode sentir prazer em tocar o gelado pois logo ele se amorna de maneira inconveniente e não se pode passar as mãos pelo cabelo recém lavado e arrumado pois ele estará mole e pegajoso. Audição. Todo som parece exausto. Até mesmo o canto dos pássaros é distante e abafado. O asfalto chia como ovos na chapa e a musica tocada ou o dialogo na TV é sempre acompanhado pelo ruído incessante das pás do ventilador. Paladar. Alem de sorvete o que nos dá prazer? A boca seca o dia todo, litros de água lavando nossas entranhas sem resultado, nada de lasanha aos domingos e alface passa a ser um prato muito interessante. O chocolate derrete antes de tocar sua boca e nada de chás e chocolate quente para induzir o sono. Olfato. Que olfato? O aparelho respiratório do ser humano normal entra em colapso com a poluição crescente, o meu simplesmente deixa de existir me deixando com a sensação de um peixe em um aquário sem saber respirar debaixo da água. Sem contar que o odor que cobre a cidade, quando consigo senti-lo, é de exaustão completa. Nem preciso comentar a tragédia dos desodorantes vencidos no ônibus em qualquer hora do dia, ou a mistura explosiva de suor e perfume nos elevadores. Visão. O que dizer da moda que explode pelo corpo das mulheres como um vírus de mau gosto? Não posso negar que ao mesmo tempo em que me dói ver que o bom senso das mulheres afundou mais que o Titanic também me diverte. O que seria da tortura diária da ida e volta ao trabalho sem o pior desfile de moda do mundo? Então... É isso que estive fazendo nos últimos 15 dias. Tentando conviver com uma estação que me desagrada, tentando sobreviver sem respirar, tentando achar graça em um trabalho que já não oferece desafios, tentando achar um caminho só de sombras.

3 comentários:

roseggata disse...

Bom dia Andreia! passei para ler suas estorias fantasticas e lhe desejat otima semana...
beijosss

Anônimo disse...

As pessoas acham o inverno desesperador, mas eu convivo melhor com o frio do que com o verão... Por isso é que o meu sonho é me mudar para um país onde o inverno é praticamente constante... O engraçado é que o verão para mim está sempre ralacionado com a estagnação e com um incomodo estranho que percorre cada milímitro do meu corpo... E mesmo morando num lugar sem poluição eu sinto como se estivesse sufocando... Quando sobrar tempo passa lá no meu...

Anônimo disse...

Ah, fiquei mais aliviado em ver esse post. No final de semana não tive tempo nem de ficar em casa quetinho por cinco minutos. Mas fiquei feliz em saber que, apesar de tudo o relatado no post, você está bem. Esse inferno está me mantando também. A bola amarela fazendo a bola azul evaporar todo dia não está nada agradável. Mas sobreviveremos! rsrs. Melhoras para o humor, a respiração e todos os outros males provenientes destes dias de forno! Beijão, Andréa!